Filha de Cunha estará sob holofotes na Câmara

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Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Herdeira política do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, a deputada Dani Cunha (União-RJ) assumiu protagonismo logo em seu primeiro mandato por influência do atual chefe da casa legislativa, Arthur Lira (PP-AL). Escalada para relatar projetos importantes, a parlamentar busca emplacar iniciativas caras ao Centrão e de interesse corporativista dos políticos em geral.

No início do mês, a filha de Eduardo Cunha se tornou presidente do grupo de trabalho montado para definir uma minirreforma eleitoral. Em junho, em outro momento de destaque, um projeto de sua autoria teve tramitação expressa na Casa e foi aprovado diretamente em plenário, sem precisar passar por nenhuma comissão, algo inusual para a maioria do parlamentares.

O texto, ainda em tramitação no Senado, criminaliza a discriminação de pessoas “consideradas politicamente expostas”, ou seja, políticos, e pode dar prisão de dois a quatro anos e multa.

Dani Cunha é publicitária e já trabalhou com marketing político. Além do apoio do pai, a profissão permitiu que ela tivesse uma aproximação com nomes importantes do Centrão, como o próprio Lira e os deputados Hugo Motta (Republicanos-PB) e André Fufuca (PP-MA). Antes mesmo de entrar para a política, ela já circulava pelas rodas.

Lira era um dos membros mais fiéis da tropa de choque de Eduardo Cunha. E a proximidade se manteve mesmo após o ex-parlamentar ser destituído do comando da Casa. O deputado do PP foi um dos poucos que ficaram ao lado do aliado quando o Conselho de Ética analisou o pedido de cassação do mandato. Desde 2019, Lira era visto como o sucessor de Cunha no comando dos partidos do Centrão e, em 2021, repetiu o feito dele ao se tornar presidente da Casa.

Fufuca, agora ministro do Esporte, disse que a deputada é “extremamente comprometida, dedicada e competente”.

Da mesma forma, o deputado Claudio Cajado (PP-BA), que foi relator do projeto sobre “pessoas politicamente expostas”, a elogiou:

— Está se articulando bem.

Em janeiro deste ano, a deputada acompanhou Lira em grande parte das reuniões de campanha que ele fez para ser reeleito presidente da Casa.

“O presidente da Câmara preza pela união e o fortalecimento do Legislativo”, escreveu ela, à época, nas redes sociais.

A atuação de Dani Cunha nesse início de legislatura se assemelha ao papel desempenhado pela ex-deputada Margarete Coelho (PP-PI), que não foi reeleita, mas é cotada para a presidência da Caixa com o apoio de Lira. Ela foi relatora de uma reforma eleitoral mais ampla e também de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que muda as regras de imunidade parlamentar.

Mesmo sendo filha do algoz da ex-presidente Dilma Rousseff e tendo escrito, junto com o pai, um livro sobre o impeachment da petista, com uma série de críticas ao PT, a parlamentar não entra em conflito com os deputados do partido.

Relator do grupo de trabalho da minirreforma eleitoral, o deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA) disse que o trabalho com ela é “tranquilo” e “tem zero estresse”.

Há também outros projetos que a deputada do União Brasil é autora e representam interesses da Câmara. Um deles, por exemplo, inclui um dispositivo que pode ampliar o número de deputados para além dos atuais 513.

A ideia pode ser uma medida para impedir as bancadas de estados como Rio e Bahia de perderem deputados, já que o Supremo Tribunal Federal decidiu que a Câmara faça um recálculo das vagas conforme os novos números da população divulgados pelo Censo.

Se tem uma relação boa com Lira e líderes do Centrão, o mesmo não pode ser dito em relação ao comando nacional de seu partido, o União Brasil. A parlamentar faz parte de um grupo do Rio que rompeu com o presidente da sigla, Luciano Bivar, e quer na Justiça o aval para sair da legenda sem perder o mandato.

Ela e os outros dissidentes estão apalavrados com o Republicanos e devem se filiar ao partido na próxima janela partidária, em 2026. Ainda assim, Dani mantém proximidade com os colegas da sigla, inclusive com o líder do partido, Elmar Nascimento (BA), outro forte aliado de Lira.

Em relação à minirreforma eleitoral articulada neste ano, os deputados do grupo liderado por Dani devem apresentar mudanças que flexibilizam regras de publicidade em campanhas, simplificam a prestação de contas e alteram a contagem do período de inelegibilidade definido pela Lei da Ficha Limpa. Neste caso, o prazo continua sendo de oito anos, mas começa a contar a partir da condenação e não mais após o cumprimento da pena.

— A diferença é que a realidade estava distorcendo o que eram os oito anos — disse a deputada ao GLOBO.

O Globo