Harmonia entre Lula e militares surta extrema-direita
Foto: Eraldo Peres/AP
Diante dos gestos de conciliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação às Forças Armadas, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, disse nessa quinta-feira (7) que já há um clima de harmonia entre os militares e a cúpula do governo. O auxiliar reconheceu, porém, que a situação ficará “ótima” quando a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas encerrar os trabalhos.
“Já existe um clima de harmonia e trabalho. Evidentemente que quando encerrar a CPMI, essas coisas todas, o clima de suspeição vai ficar ótimo”, afirmou Múcio após o encerramento do desfile de 7 de Setembro.
A menção às investigações feitas pela CPMI se deve ao fato de que o colegiado foi criado justamente para apurar o envolvimento de militares nos ataques de 8 de janeiro aos prédios dos Três Poderes. Caso não seja prorrogada, a comissão concluirá seus trabalhos em 20 de novembro.
Horas após essa declaração, Múcio buscou reforçar, em entrevista à GloboNews, que o clima entre governo federal e Forças Armadas “já mudou”. “O clima é pacífico, de harmonia, trabalhamos todos juntos”.
Em seu primeiro desfile após o retorno ao comando do Palácio do Planalto, Lula tentou dar uma nova dinâmica para os festejos do dia da Independência, feriado que ganhou conotação bolsonarista nos últimos quatro anos. Lado a lado com chefes de outros Poderes e das Forças Armadas, apostou na imagem de união para pacificar a data.
Um dia antes, em seu pronunciamento na TV, o petista já sinalizava que buscaria imprimir uma marca pacífica e destacou que o 7 de Setembro não seria um dia “nem de ódio, nem de medo, e sim de união”. Ele defendeu que a celebração da Independência deveria lembrar que o Brasil é “um só”.
Segundo Múcio, o desfile representou “uma virada de página”, já que, de acordo com ele, “nos últimos anos” a comemoração “foi absorvida pelos interesses políticos, e nós tivemos mais comícios do que festas cívicas”.
“Hoje estavam todos lá comemorando a nossa soberania. Foi uma festa lindíssima. Não houve conotação política. Todos estavam ali torcendo pelo país”, afirmou o ministro. “Precisamos voltar a ter um Brasil pacífico onde todos torcem pelo país. Temos muitas diferenças, muitos problemas que precisam ser enfrentados. Hoje foi uma virada de página”, completou.
Reservadamente, Múcio foi elogiado por colegas de Esplanada durante o evento por estar “à vontade” e por “ter conduzido bem” a interação entre o presidente e os chefes das Forças Armadas. Em um determinado momento, Lula e Múcio posaram de mãos dadas com os comandantes do Exército, Tomás Ribeiro Paiva, da Aeronáutica, Marcelo Kanitz Damasceno, e da Marinha, Marcos Sampaio Olsen.
A presença da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, também fortaleceu as diferenças entre Lula e seu antecessor. Nos dois últimos anos, nenhum representante da Corte participou do desfile. Tanto em 2022 quanto em 2021, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) fez ataques à democracia e a ministros do STF. Nas duas ocasiões, o ministro Luiz Fux, então presidente do Supremo, reagiu com duros pronunciamentos.