Lula manda “desbolsonarizar” o 7 de setembro
Foto: Ricardo Stuckert/PR
Em seu primeiro 7 de Setembro do atual mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende “desbolsonarizar” a data nacional, usada nos últimos anos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro como palanque político e palco para ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A ideia do presidente, dizem ministros com quem o Valor conversou, é devolver ao feriado do Dia da Independência a dimensão que ela já teve no passado: uma data comemorativa com festejos patrióticos, porém discretos.
O desfile em Brasília será menor do que nos anos anteriores, com participação das Forças Armadas, do Corpo de Bombeiros e de escolas públicas. Outras forças de segurança, como a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Militar estarão de fora. A organização está a cargo da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom). O Ministério da Defesa está apenas sendo municiado com informações sobre o desfile para repassá-las às Forças Armadas.
O evento, na manhã da próxima quinta-feira, está programado para durar cerca de duas horas. Lula estará em um palco com autoridades e não discursará. Ele embarca logo em seguida para a Índia, onde participa da cúpula do G20.
A postura formal de Lula no desfile faz parte de um processo de “purificar” sua relação com as Forças Armadas, contaminada com o alinhamento de uma parcela significativa dos militares ao bolsonarismo e a participação de fardados em conspirações golpistas.
Essa normalização nas relações já vem ocorrendo e teve como episódio simbólico a devolução da segurança presidencial ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), após meses de comando provisório da PF.
Na véspera do feriado, o presidente deve fazer um pronunciamento à nação em cadeia de rádio e TV, destacando o respeito à institucionalidade e à democracia, de acordo com auxiliares diretos.
Mas o trauma com os ataques às instituições em 8 de janeiro ainda gera reflexos em Brasília. A governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão, criou um Gabinete de Mobilização Institucional para organizar a segurança da Praça dos Três Poderes depois que o ministro da Justiça, Flávio Dino, enviou a ela um ofício alertando sobre a possibilidade de manifestações bolsonaristas no feriado.
A Secom estima a presença de 30 mil pessoas na Esplanada. Sob o slogan “Democracia, Soberania e União”, o desfile terá quatro “eixos temáticos”: Paz e Soberania; Ciência e Tecnologia; Saúde e Vacinação; e Defesa da Amazônia. Sempre exaltando o papel das Forças Armadas nessas áreas.
Mais enxuto do que nas versões anteriores, o desfile deste ano difere dos eventos durante o governo Jair Bolsonaro.
Em 2021, o ex-presidente deflagrou uma crise institucional ao discursar diante de uma multidão em São Paulo e ameaçar descumprir decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
“Dizer a vocês, que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá.”, afirmou. “Ou esse ministro se enquadra ou ele pede para sair. Não se pode admitir que uma pessoa apenas, um homem apenas turve a nossa liberdade. Dizer a esse ministro que ele tem tempo ainda para se redimir, tem tempo ainda de arquivar seus inquéritos. Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha. Deixa de oprimir o povo brasileiro, deixe de censurar o seu povo.”
Depois dessa fala, o antecessor de Bolsonaro na Presidência, Michel Temer, foi chamado a Brasília para apagar o incêndio causado. Temer, que indicou Alexandre de Moraes ao Supremo, redigiu uma “Declaração à Nação”, na qual Bolsonaro afirma que nunca teve a “intenção de agredir quaisquer dos Poderes” e que suas palavras, “por vezes contundentes, decorreram do calor do momento”.
No ano passado, Bolsonaro usou o 7 de Setembro para fazer campanha e reuniu multidões em Brasília e no Rio, pedindo votos na eleição marcada para outubro.