Lula vai a Cuba

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Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

A política externa tem sido tratada como prioridade pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu terceiro mandato. O petista está adiando uma cirurgia no quadril para tratar fortes dores porque não quer atrapalhar sua agenda diplomática, que tem o objetivo de unir forças de países em desenvolvimento e equilibrar o diálogo com as nações ricas. Focado na meta de mudar a governança internacional, o presidente brasileiro embarca para Cuba no fim desta semana e vai participar da cúpula do G77+China, bloco que reúne países do Sul Global.

Em seguida, Lula viaja para a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, onde vai tentar colher frutos de seus esforços por reformas.

O empenho de Lula para unir forças que possam se contrapor a Estados Unidos e Europa em temas como comércio e finanças não tem acontecido sem sobressaltos. Entre os países mais influentes do Sul Global há várias ditaduras, e um membro que está na mira do mundo por ter invadido militarmente um vizinho, a Rússia. Essas companhias têm um custo político para o Brasil.

No último final de semana, durante a cúpula de chefes de Estado do G20, na Índia, Lula voltou a ser alvo de muitas críticas por se alinhar ao presidente russo, Vladimir Putin, dizer que ele não seria preso no Brasil, e questionar o papel do Tribunal de Haia.

“Países emergentes são signatários de coisas que prejudicam eles mesmos”, afirmou o petista.

Contudo, o protagonismo em diversos foros multilaterais – com a presidência do G20 entre dezembro e novembro de 2024, a liderança no Mercosul e a futura presidência do Brics, em 2025 – deve contribuir para facilitar o avanço de agendas consideradas prioridades para a diplomacia brasileira. Entre elas, a transição energética, o combate à fome e uma nova governança mundial.

O bloco de países em desenvolvimento que se reúne em Havana, Cuba, nos dias 15 e 16 de setembro foi criado em 1964, em um contexto de Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética, para tentar aumentar o poder de influência no debate global das nações que não estavam diretamente envolvidas na disputa entre capitalismo e comunismo.

O Brasil esteve entre os primeiros 77 signatários, mas o grupo cresceu nas décadas seguintes. Hoje tem 134 países membros e passou a se chamar G77+China, desde que o gigante asiático se uniu ao bloco, nos anos 1990.

Em um encontro do G77 em 2014, na Bolívia, os países membros já se alinhavam no esforço de criar uma “nova ordem mundial”, mais equilibrada e pela busca de uma maior cooperação entre nações em desenvolvimento.

“Viemos com a expectativa de que esta cúpula ouça a voz dos povos do sul, sua luta por desenvolvimento econômico sustentável e justo, e por uma nova ordem econômica mundial”, disse, na época, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que era um dos maiores promotores da disputa geopolítica com os Estados Unidos e seus aliados.

Quase 10 anos depois, Maduro segue presidindo a Venezuela, mas ainda não confirmou presença na cúpula de Cuba. Quem já avisou que vai, além de Lula, são chefes de Estado como Gustavo Petro, presidente da Colômbia, e Alberto Fernández, mandatário da Argentina.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também vai a Cuba participar do evento. Logo depois, todos vão para os Estados Unidos, para a Assembleia Geral das Nações Unidas.

Em Havana, Lula deve se manter na missão de angariar apoio para cobrar reformas na governança da ONU, sobretudo no Conselho de Segurança da entidade diplomática, que tem como membros permanentes Estados Unidos, França, Reino Unido, China e Rússia. Todos têm poder de veto. Outros países ocupam alternadamente 10 vagas rotativas, sem poder de veto.

Lula tem dito que esse modelo é anacrônico, reflete uma geopolítica dos anos 1960 e não tem impedido conflitos, como a Guerra da Ucrânia.

Apesar de embates sobre temas como a guerra e as mudanças climáticas estarem acontecendo, Lula diz em seus discursos que não quer ser adversário das potências tradicionais, reunidas no G7, mas ter uma relação mais parelha com elas.

Para isso, o petista tem se esforçado no primeiro ano de seu atual governo para incluir o país em grupos maiores que tenham objetivos parecidos, como fez na Cúpula da Amazônia e ao celebrar a ampliação do bloco dos Brics com mais seis nações.

O G77, então, faz parte desse contexto, de blocos políticos para negociações. Como em outros encontros, deverão ser discutidas ideias como a possibilidade de fazer comércio exterior sem o dólar e cobranças por financiamento das nações ricas para a transição para uma economia mais verde nos países em desenvolvimento.

Os países do Sul Global dizem que não querem substituir o dólar, até porque seriam as maiores vítimas da quebradeira que o enfraquecimento da moeda norte-americana criaria, mas ter opções para não depender totalmente dele.

Como a diplomacia tem seu próprio ritmo, não deve-se esperar que as demandas dos países em desenvolvimento se transformem logo num profunda reforma da ONU. Lula, porém, indica que dedicará bastante atenção a essa luta ao longo de seu mandato.

Metrópoles