País terá primeiro 7/9 sem golpismo desde 2016

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Foto: Secom / Presidência

Pela primeira vez desde a eleição de Jair Bolsonaro, teremos um desfile de 7 de setembro sem ameaças golpistas. Será um evento com forte conotação conciliadora, com objetivo de apartar as Forças Armadas da política e mostrar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confia nos comandos militares. No último dia 19, junto com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, Lula acertou a orientação política do evento com o almirante Marcos Sampaio Olsen (Marinha), o general Tomás Miguel Paiva (Exército) e o brigadeiro Marcelo Damasceno Aeronáutica. Todos estão em sintonia com o esforço de pacificar seus respectivos comandados, que foram muito influenciados pelo golpismo.

O foco de tensão existente ainda hoje nas Forças Armadas são as investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, que provocaram a queda do ex-comandante do Exército Júlio Cesar Arruda. Ao contrário do general romano que lhe empresta o nome, Arruda não atravessou o Rubicão, embora tenha sido condescendente com os golpistas acampados em frente ao Quartel-General do Exército, razão de sua demissão. Era o general mais antigo e, por isso, fora escolhido para o cargo, por sugestão do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, um político pernambucano, que se caracteriza pela elegância no trato e o espírito político conciliador.

Múcio organizou a reunião de Lula com os comandantes militares para “falar de tudo”. Mas o prato principal foi a reaproximação com os militares, depois da tentativa de golpe de estado de 8 de janeiro. Os comandantes da Marinha, do Exército e da Força Aérea defendem a investigação e a punição de militares que tenham se envolvido em atos golpistas. “Os militares são legalistas, ficaram muito isolados após o 8 de janeiro, sob desconfiança da esquerda e ataques da extrema direita”, disse o ministro da Defesa, ontem, ao Correio.Também se falou de investimentos nos projetos prioritários das três Forças, que têm um orçamento maior do que o da Educação. Para 2024, Lula teria prometido aumentar a verba da pasta em cerca de 0,2% do PIB, chegando a 1,5% das riquezas produzidas pelo país.

Neste ano, as Forças têm R$122,8 bilhões no orçamento, sendo R$ 36 milhões voltados para projetos de defesa nacional e o restante para custeio da máquina. O montante significa 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Os militares trabalham nos bastidores do governo e do Congresso para aumentar o Orçamento para 2% do PIB nos próximos anos.

Depois da reunião dos comandantes com Lula, surgiram fatos novos envolvendo o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, e seu pai, o general de quatro estrelas Mario Cezar Lourena Cid, que surpreendeu o Alto Comando do Exército ao participar da venda de um Rolex cravejado de brilhantes nos Estados Unidos, joia que Bolsonaro havia recebido de presente da Arábia Saudita e que deveria ser incorporada ao Patrimônio da União. Outro assunto constrangedor é a suposta reunião do general Paulo Sérgio, então ministro da Defesa, com o hacker Walter Delgatti.

Esses constrangimentos, porém, reforçam a autoridade dos comandantes militares, que defendem o não envolvimento dos oficiais da ativa das três Forças com a política e querem, inclusive, mudar a legislação para que os militares que vierem a ocupar cargos de governou deixem a ativa definitivamente, exceto naqueles postos que são realmente de atribuição militar.

A celebração do Dia da Independência do Brasil na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, será pautada pelos símbolos republicanos, como o Brasão, a Bandeira do Brasil e o Hino Nacional. O desfile terá quatro eixos temáticos, uma novidade: “Paz e Soberania”, “Ciência e Tecnologia”, “Saúde e Vacinação” e “Defesa da Amazônia”. São temas sobre os quais os militares têm o que mostrar à sociedade. A presença do presidente Lula nos desfiles, como comandante supremo das Forças Armadas, terá repercussão política internacional, em razão da tentativa de golpe de 8 de janeiro e dos desfiles realizados durante o governo Bolsonaro. Há 200 autoridades convidadas.

“A programação da comemoração do 7 de Setembro na Esplanada ficou a cargo da Secretaria de Comunicação da Presidência, o desfile será mais enxuto e servirá para demostrar a coesão, a disciplina e o compromisso com a democracia das Forças Armadas”, disse José Múcio.

O roteiro do desfile prevê a passagem de tropas da Marinha, Exército e Aeronáutica, a apresentação de escolares, além de bandas marciais e representantes de várias instituições. A grande atração, como sempre, será o show aéreo da Esquadrilha da Fumaça. Após o desfile, haverá uma exposição multimídia na área externa do Museu Nacional em homenagem às Forças Armadas.

A expectativa é que o 7 de setembro reúna cerca de 30 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios. A exposição reunirá equipamentos militares e telões interativos, para apresentar as atividades e os programas estratégicos desenvolvidos pelas Forças Armadas, até o dia 10 de setembro, das 9h às 17h. No Lago Paranoá, com início previsto às 16h, haverá uma Parada Naval. Ao todo, serão dez embarcações da Marinha, que sairão das proximidades do Clube da Aeronáutica, passando pela Ponte Juscelino Kubitschek, Clube Naval de Brasília, Ponte Honestino Guimarães, Pontão do Lago Sul e Península dos Ministros.

Para garantir a segurança do evento, o haverá revistas em todos os pontos de acesso à Esplanada, além de reforço no policiamento e nos atendimentos de emergência. A circulação de veículos na área da Esplanada dos Ministérios estará bloqueada no dia 6 de setembro, da Catedral de Brasília até a Praça dos Três Poderes. Está proibido o uso de drones no espaço aéreo da Esplanada dos Ministérios.

O acesso à Praça dos Três Poderes será restrito, com bloqueio e policiamento a partir da Avenida José Sarney. O Congresso Nacional, os ministérios da Justiça e Segurança Pública e de Relações Exteriores, bem como o Supremo Tribunal Federal (STF), serão protegidos com gradis e policiamento. A preocupação com a segurança do presidente Lula será extrema, principalmente nas imediações do palanque oficial, e atiradores de elite estarão em posições estratégicas.

Correio Braziliense