Sob pressão, Republicanos hesita em apoiar Lula

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Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Mesmo após a a promessa de que Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) será nomeado ministro, processo que se arrasta há mais de dois meses, o Palácio do Planalto ainda vai precisar resolver pendências na Câmara para ampliar o apoio do seu partido. Deputados da sigla que são ligados à Igreja Universal e outras vertentes evangélicas estão insatisfeitos com tratamento do governo a pautas de interesse dos religiosos.

Ainda que digam ter abertura para diálogo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus ministros, parte da legenda continua a criticar a administração. A bancada tem bispos da Universal entre seus representantes, como os deputados Marcelo Crivella (RJ), Gilberto Abramo (MG), Márcio Marinho (BA), além do próprio presidente do partido, Marco Pereira (SP). Todos eles têm evitado se classificar como oposição e dizem ser favoráveis a algumas iniciativas do governo na economia, mas registram queixas sobre outras políticas públicas, principalmente relacionadas aos costumes.

Crivella, por exemplo, disse que a escolha de Silvio Costa Filho como ministro não irá fazer com que o partido seja da base na Câmara, mas também descarta “oposição por oposição”.

Silas Câmara (Republicanos-AM), coordenador da bancada evangélica e um dos líderes da Assembleia de Deus, avalia que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) era melhor que Lula.

– Não tem nem como comparar, o ex-governo do presidente Bolsonaro era completamente pró-vida, pró-família, pró-cristão e o governo atual é na contramão de tudo isso – disse Câmara ao GLOBO.

Silas teve em sua posse como líder da bancada evangélica a presença dos ministros Jorge Messias (Advocacia Geral da União), Márcio Macedo (Secretaria-Geral) e Márcio França (Portos e Aeroportos). Ainda assim, o deputado demonstra afastamento.

– Não sei avaliar se é ou não um bom sinal (ter os ministros na posse). Acredito que sinais se dão na prática, e não com visitas em eventos abertos a todos.

Uma demanda cara aos evangélicos e que ainda não foi aprovada é uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que dá imunidade tributária a templos religiosos e prédios de partidos políticos. A PEC foi apresentada em março e conta com a assinatura de seis deputados do PT. O relator é Silvio Costa Filho, que deu parecer favorável.

Crivella chegou a falar com o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, sobre o assunto em março, e disse que teve uma sinalização favorável do governo, mas o texto ainda não avançou. A PEC chegou a ser pautada na semana passada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, presidida por Rui Falcão (PT-SP), mas não foi discutida.

O deputado Alencar Santana (PT-SP), vice-líder do governo na Câmara e integrante da CCJ, disse que o foco da base está em barrar uma outra PEC, que dificulta o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de financiar obras no exterior.

— Estávamos preocupados semana passada com PEC 3 — disse, ao comentar o texto de Crivella.

A ala do Republicanos mais ligada à religião reclama de pautas de esquerda incentivadas pelo governo, como medidas que vão na direção de flexibilizar o aborto. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, revogou uma série de portarias editadas durante o governo de Bolsonaro que dificultavam a prática de aborto legal.

— Boa parte da ala governista insiste na pauta de costumes — disse o deputado Gilberto Abramo.

Apesar disso, ele evita se classificar como oposição a Lula.

— Seguimos o mesmo pensamento do presidente Marcos. Somos independentes, as pautas que são essenciais ao desenvolvimento do país terão nosso apoio. Retrocessos, não

Editorial da Folha Universal, periódico ligado à igreja, publicado no final de agosto, também reclama de orientações do Conselho Nacional de Saúde (CNS) sobre religiões africanas e a população LGBTQIAP+. A publicação se queixa da “considerável politização e certo palanque para agendas inegavelmente ideológicas, com vestígios progressistas”.

O partido e também a Universal já foram aliados de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff no passado, mas no governo Lula 3 há uma dificuldade em se reaproximar dessa ala. Um dos motivos é a maior identificação do grupo ideologicamente com Bolsonaro.

O Globo