Desespero enterrará Bolsonaro de vez

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Desespero enterrará Bolsonaro de vez

Eduardo Guimarães

Dois dias antes de ser alvo da Operação Tempus Veritatis (hora da verdade), Jair Bolsonaro, diante de uma TV em que uma baleia fazia acrobacias, gravou mensagem em vídeo para o seu rebanho ostentando um nauseante ar de deboche em sua cara de canastrão de filme B:

“Olá amigos de São Sebastião e região, vocês sabem que a PF havia marcado para amanhã, dia 7 de fevereiro, às 15 horas, o meu depoimento nesta cidade. Não sei por que resolveram adiar, inclusive pra outro local. Mas, como muita gente havia se manifestado, gostaria de comparecer para me ver, pra bater um papo, tirar uma foto, trocar uma ideia, eu resolvi manter esse compromisso, né (…)”

Ao fim do vídeo, com a cara rachada por um sorriso irônico, ele aponta a tela atrás de si, onde a baleia estava, e se despede.

Algumas centenas de eleitores bovinos acorreram ao chamado e compareceram, pontualmente, na aprazível estância turística, onde o ex-presidente desfiou seu triunfalismo precipitado. Exatas 15 horas depois, a polícia federal batia à sua porta no confortável palacete pé-na-areia da vila histórica de Mambucaba, em Angra dos Reis.

104 horas depois, Bolsonaro aparece em vídeo já sem o ar de deboche no rosto, comedido e pedindo ao seu disciplinado rebanho que compareça à mais paulista das avenidas trajando verde e amarelo, tal qual um Fernando Collor de Mello do século 21, para apoiá-lo em praça pública.

Seu entorno já começa a cantar vitória antes do tempo, anunciando que meio milhão de pessoas comparecerão a uma via pública sobre a qual estudos demográficos rezam que só comporta até 300 mil almas em carne, osso e smartphones.

A interpretação da imprensa foi uníssona: Bolsonaro tenta emparedar, intimidar, assustar o mesmo Supremo que ignorou, olimpicamente, as massas humanas que lotaram as ruas do país ( inclusive a avenida Paulista) para protestar contra a prisão de Lula. Afinal, manifestações não têm poder de elidir crimes inexistentes ou verdadeiros.

Bolsonaro é esperto (não inteligente; esperto) o suficiente para saber que o STF só não vai se lixar para a manifestação se os bolsomínions forem bolsomínions e quebrarem tudo; se ocorrer, o Supremo vai encanar muitos deles, a começar pelo próprio Bolsonaro.

Afinal, a LEI Nº 5.349, DE 3 DE NOVEMBRO DE 1967, reza, em seu artigo 312, que “A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova de existência do crime e indícios suficientes da autoria”.

Motivos à parte, a intenção de Bolsonaro parece outra. O Supremo não é o alvo da manifestação; os alvos são Tarcísio de Freitas, Cláudio Castro, Ratinho Junior, Romeu Zema e muitos outros políticos que estão se fingindo de mortos a um ponto que o pretenso candidato a vice do prefeito Ricardo Nunes (Sampa) teve que vir a público pedir que quem se elegeu “nas costas” de Bolsonaro que faça o favor de emitir uma nota, declaração ou sinal de fumaça em solidariedade ao moribundo político a quem serve.

Seja como for, o simulacro de Collor está brincando com o fogo. Assim como ocorreu com o Collor original, gente de preto pode substituir gente trajada de auri-verde aqui na Paulicéia menos desvairada do que pensam, pois, em maioria, votou em Lula em 2022.