Respeitem a história de Lula
Respeitem a história de Lula
Eduardo Guimarães
Antes de mais nada, que fique claro que este que escreve jamais recebeu absolutamente nada de político ou de governo nenhum. Nada. Nem um favor, nem um panetone no Natal, nem um miserável centavo. E sabe por que, leitor? Porque jamais pedi e tampouco aceitei.
Sergio Moro não acreditou e foi vasculhar a minha vida. Devassou minhas contas bancárias, meus e-mails, meus telefonemas. Sabe o que achou? Um homem digno que quando diz que não deve nada a político ou a governo nenhum, fala a verdade, nada mais do que a verdade.
Coisas da minha cabeça. Não julgo quem pensa diferente sobre receber apoio de políticos ou governos, mas não quero ser julgado por pensar como penso. Simples assim.
Dito (tudo) isso, começo o assunto consequente a este: defender o presidente Lula de uma horda de críticos aos quais falta, na melhor das hipóteses, conhecimento da história dele — e, na pior das hipóteses, caráter.
Sábado, 22 de março de 2024. Ainda faltava uma boa hora e meia para o amanhecer quando comecei a ler os jornais do dia para formular a primeira edição do meu próprio telejornal, no Canal no YouTube. Quando chego à Folha de São Paulo, o título do artigo chama atenção. Era de Hélio Schwartsman, um direitinha que assina uma coluna na Folha há muitos anos e que sempre me irrita com a sua pose (fajuta) de inteligentinho.
“Lula e os puxa-sacos” foi o título vagabundo que ele deu. E começou usando aquilo que direita e esquerda, por falta de imaginação em tempos de efeitos manada, usam ad nauseam. Ou seja: aquela história de que “Lula pediu para ser criticado”.
Aí vai um trecho daquela estrovenga:
“Em 2022, antes da posse, Lula pediu para ser criticado, afirmando que não precisava de tapinhas nas costas (…) Ali, falando a simpatizantes, ele pediu para ser criticado: ‘Eu sei que vocês vão continuar nos ajudando e cobrando. Isso é importante. Não deixem de cobrar. Porque se vocês não cobram, a gente pensa que está acertando.E muitas vezes a gente está errando e continua errando porque as pessoas não reclamam. Vou dizer em alto e bom som. Nós não precisamos de puxa-sacos. Um governo não precisa de tapinhas nas costas (…)’ ”
Lula não imaginou o que estava fazendo. Ao recomendar aos seus ministros que o criticassem para tornar seu governo mais eficiente, deu a uma legião de lacradores de esquerda e direita a deixa para fazer criticas absurdas sob o mote de que atendia a seu pedido. E todos repetindo a mesma coisa, achando que estão lacrando forte e sendo originais.
Um humorista-jornalista só faltou chamar Lula de machista e racista porque não nomeou uma mulher negra para o STF neste terceiro mandato, apesar de ter colocado uma mulher na Presidência da República e o primeiro negro naquela Corte desde Pedro Lessa e Hermenegildo de Barros, nomeados no limiar do século 20.
Agora, os lacradores estão fazendo uma palhaçada de proporções titânicas porque Lula fez um acordo com militares para evitar acirrar a polarização com atos no governo e nos quartéis in memoriam do infame 31 de março de 1964.
Confesso que tenho preguiça de explicar por que um Estadista como Lula deve fugir da “macheza” dos populistas de botequim como o Jair Bolsonaro ou o Ciro “Vergonha Alheia” Gomes e não esticar a corda agora. O momento é grave, o governo está politicamente fragilizado, a extrema-direita está prestes a ganhar um congênere no governo da Superpotência Hegemônica… Etc., etc., etc.
Mas o voluntarismo de esquerda — igual àquele que fez uma manifestação sem sentido no fim de semana passado, da qual até o psolista Guilherme Boulos manteve distância — não deixa seus adeptos entenderem o significado da palavra estratégia.
Que estratégia tem Lula? Aquela que o fez ganhar CINCO eleições presidenciais (porque as duas que Dilma ganhou foram baseadas na estratégia dele).
Lula foi preso pela ditadura por enfrentá-la como ninguém jamais havia enfrentado e com resultados que ninguém jamais havia obtido. E venceu. Sua estratégia é vencedora há muito mais tempo do que boa parte dos seus críticos tem de vida.
Para que Lula venceu eleições? Para tirar dezenas de milhões da pobreza e da miséria, para fazer o país crescer como há muito não crescia e para organizar a economia a tal ponto que ganhamos o selo de país bem organizado economicamente, o “investment grade”.
Ah, essas agências de classificação de risco são falhas. Pode ser, mas a nota delas, sendo alta, define quanto um empresário ou um governo de qualquer nível no Brasil pagará de juros em empréstimos internacionais. Sem falar que atrai investimentos fortemente.
Respeitem a história do Lula. Ele acertou quase todas as vezes em que disseram que estava errando. Por exemplo, quando escolheu Geraldo Alckmin para vice — sem o qual talvez não tivesse conseguido formar a frente ampla que o elegeu — ou Paulo Gonet para PGR, quem está fazendo um trabalho que todos têm aplaudido – agora…
Respeitem, respeitem, respeitem. Tenham noção, tenham bom senso, tenham memória, tenham inteligência, tenham sensatez, tenham humildade, tenham responsabilidade, tenham um mínimo de autocensura e de noção das coisas. O Brasil agradece.