Caso Queiroz vai desmontar discurso ético de Bolsonaro
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De volta às ruas nesta quarta-feira, duas semanas após o Supremo Tribunal Federal (STF) liberar as investigações iniciadas a partir de dados compartilhados pelo Coaf, o caso Queiroz lança novamente a sombra da corrupção sobre a família Bolsonaro. Eleito dias antes de as primeiras notícias sobre o ex-PM surgirem, o presidente ganhou o pleito encarnando a insatisfação popular contra os malfeitos do sistema político, expostos como nunca nos anos anteriores pela Lava-Jato. Mas chega ao fim do primeiro ano de mandato com a imagem danificada nessa área.
No início do mês, o Datafolha mostrou que 50% dos brasileiros consideram a gestão Jair Bolsonaro “ruim ou péssima” no combate à corrupção – bem menos gente reprova o governo como um todo (36%, na mesma pesquisa). Na semana passada, o ministro da Justiça, Sergio Moro, tentou atribuir esse número à decisão do STF de revogar a prisão após a condenação em segunda instância. “As pessoas às vezes têm uma percepção geral e atribuem ao governo”, formulou, em entrevista à “Folha de S.Paulo”.
É provável que boa parte dos brasileiros confundam atos do governo com o de outros Poderes, e a libertação de condenados certamente não reforça a ideia de combate à impunidade, mas o governo Bolsonaro já acumula um currículo que justifica a má fama nessa área por demérito próprio, sem precisar de ajuda. As suspeitas sobre as candidaturas laranjas do PSL, por exemplo, contam com diversas evidências – o escândalo estourou em fevereiro e desde então o presidente decidiu proteger seu ministro do Turismo altamente enrolado.
O caso Queiroz tem um agravante específico: trata-se de uma suspeita de corrupção não apenas no governo, mas na própria família do presidente. Flávio, o filho mais velho, é o possível orquestrador da ‘rachadinha’ em seu gabinete; Carlos também tem contratações suspeitas no seu; e até mesmo cheques destinados à primeira-dama Michelle – dos quais o próprio presidente apressou-se em dizer ser o real destinatário – já foram identificados saindo da conta do ex-PM Fabrício Queiroz. Há ainda a ironia de que a família “antissistema” pode ter adotado justamente uma das práticas mais ordinárias dos desvios da política nacional.
É inevitável imaginar que uma busca e apreensão feita mais de um ano após o surgimento do caso tenha dificuldade de arrecadar novas provas irrefutáveis, mas o prosseguimento da investigação no mínimo devolve o caso à pauta do dia. É nesse ponto que atinge o presidente numa seara onde ele se acostumou a vencer: a disputa pela narrativa do debate público.
Realimentado, o caso da “rachadinha” mantém à mão de seus adversários algo que eles foram incapazes de formular em todo o primeiro ano de governo. Um questionamento concreto a ponto de ser difícil de responder e simples para que seja complicado escapar: E o Queiroz?