Líder democrata dos EUA condena ataque em Bagdá

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Foto: Saul Loeb/AFP

A presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, democrata e crítica contundente do presidente Donald Trump, condenou o ataque americano que matou o general iraniano Qasem Soleimani, e disse que o bombardeio foi realizado sem consulta ao Congresso e sem autorização para o uso de força militar contra o Irã. Trump, por sua vez, justificou a ação afirmando que “Soleimani matou ou feriu gravemente milhares de americanos por um longo período de tempo”.

Em um comunicado contundente, Pelosi reforçou que o assassinato do principal comandante da Força Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária do Irã, representa “uma escalada perigosa da violência”.

“A maior prioridade dos líderes americanos é proteger vidas e interesses americanos. Mas não podemos aumentar o risco para a vida de militares, diplomatas e outros americanos, participando de ações provocativas e desproporcionais. Os riscos do ataque aéreo de hoje à noite [quinta-feira] provocam uma escalada perigosa de violência. Os Estados Unidos — e o mundo — não podem se dar ao luxo de aumentar as tensões até um ponto sem volta”, afirmou a presidente da Câmara.

Em entrevista à revista New Yorker, Douglas Silliman, ex-embaixador americano no Iraque, disse que o assassinato de Soleimani foi um ato de guerra, equivalente ao Irã matar, por exemplo, o comandante das operações militares dos EUA no Oriente Médio e Sul da Ásia.

Trump, que é candidato à reeleição e está sendo submetido a um processo de impeachment no Congresso, publicou, logo após a ação, uma imagem da bandeira americana no Twitter. Nesta sexta-feira, ele justificou a ação dizendo que Soleimani “planejava matar muitos mais”: “Ele foi direta e indiretamente responsável pela morte de milhões de pessoas, incluindo grande número de manifestantes no próprio Irã. Embora o Irã nunca seja capaz de admitir, Soleimani era odiado e temido no país. Eles não estão tão tristes quanto os líderes permitirão que o mundo exterior acredite”.

Em entrevistas à Fox News e à CNN, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, elogiou a ação e reiterou que os Estados Unidos mantêm o comprometimento com a redução de tensões com o Irã, “mas estão preparados para se defender”. Ele disse que a decisão de matar Soleimaini foi tomada com base em informações de inteligência que indicavam “ataques iminentes” a alvos americanos no Oriente Médio. Posteriormente, o Pentágono anunciou o envio de mais 3.500 soldados para a região, onde as diversas bases americanas já abrigam cerca de 60 mil militares.

Nesta sexta-feira, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, prometeu uma “vingança implacável” e decretou três dias de luto nacional pela morte de Soleimani, de 62 anos, que dirigia as Forças Quds da Guarda Revolucionária iraniana desde os anos 1990 e era responsável pela coordenação dos grupos aliados do Irã em países como Síria e Iraque.

Dentro dos Estados Unidos, a ação dividiu os líderes do Congresso americano e reacendeu um debate sobre se Legislativo deve reduzir os poderes de guerra do presidente. Enquanto grande parte dos republicanos aplaudiu o ataque, democratas expressaram temor por suas consequências.

— É o cenário que pode muito bem levar ao tipo de violência e caos do qual que estamos tentando desesperadamente nos manter fora — disse o democrata Andy Kim, ex-diretor para o Iraque no Conselho de Segurança Nacional do presidente Barack Obama — As próximas horas e dias serão muito importantes.

Tom Udall, do Novo México, acusou Trump de levar a nação “à beira de uma guerra ilegal com o Irã”.

“Essa escalada imprudente das hostilidades é provavelmente uma violação da autoridade de guerra do Congresso — bem como do nosso acordo com o Iraque — e coloca em risco as forças e os cidadãos dos EUA”, disse Udall em comunicado. “Muito possivelmente estará nos afundando em outra guerra desastrosa no Oriente Médio que o povo americano não está pedindo e não apoia.”

Entre a maioria dos republicanos, no entanto, a ação foi celebrada:

— Sua morte representa uma oportunidade para o Iraque determinar seu próprio futuro livre do controle iraniano — disse o senador Jim Risch, de Idaho, presidente do Comitê de Relações Exteriores.

Marco Rubio, republicano da Flórida, rejeitou, em uma séria de tuítes, a acusação de que Trump não tinha autoridade para ordenar o bombardeio: “Às vezes, a melhor maneira de evitar um conflito mais amplo é uma ação limitada, mas decisiva, que deixa um claro cálculo de custo-benefício para um adversário.”

“Soleimani era um combatente inimigo ativo, mais perigoso do que homens maus, como Bin Laden e Baghdadi e que agiam sem levar em conta a lei da guerra”, completou Rubio.

O ataque aconteceu três dias depois que manifestantes pró-Irã e integrantes das FMP tentaram invadir a Embaixada dos Estados em Teerã, em um protesto contra bombardeios americanos que no domingo mataram 25 integrantes de uma de suas milícias, a Kataib Hezbollah. Os bombardeios, segundo Washington, ocorreram em represália a um ataque do grupo que matou um funcionário terceirizado em uma base dos EUA na cidade iraquiana de Tikrit.

Nesta sexta-feira, a representação diplomática recomendou a seus cidadãos que deixem o Iraque “imediatamente”, “de avião enquanto é possível”. As principais passagens de fronteira do Iraque levam ao Irã e a uma Síria ainda em guerra, mas também há outras áreas de fronteira com Arábia Saudita e Turquia.

As tensões entre Washington e Teerã aumentaram no último ano, depois que o governo Trump se retirou unilateralmente em 2018 do acordo nuclear assinado entre o Irã e as principais potências globais em 2015.

O Globo