Crivella vai à Brasília e é ignorado por Bolsonaro
Com muitos problemas para resolver e pouco dinheiro em caixa, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcello Crivella, voltou a passar o pires em Brasília. Nesta terça-feira, ele foi ao Ministério da Saúde, à Advocacia-Geral da União (AGU) e ao Palácio do Planalto, mas não foi recebido pelo presidente Jair Bolsonaro. Entre os pleitos de Crivella está o pagamento de R$ 300 milhões que, segundo ele, deixaram de ser pagos em razão de obras dos Jogos Olímpicos de 2016, sediados na cidade.
A cobrança do dinheiro da Olimpíada foi feito na AGU, onde o prefeito teve uma reunião com o advogado-geral da União substituto, Renato de Lima França, e o diretor da Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Pública Federal, José Roberto Peixoto. O ministro da AGU, André Mendonça, não participou porque está de férias. Crivella pediu um processo de mediação para receber recursos que viriam da Caixa Econômica.
O dinheiro, se vier, ainda vai demorar. Esse tipo de processo costuma levar meses, e a reunião desta terça-feira ocorreu ainda num estágio embrionário. Em 2016, o prefeito anterior, Eduardo Paes, já tinha dito que o município fez adiantamentos para obras dos jogos que não foram ressarcidos pela União.
Antes da AGU, Crivella passou pelo Ministério da Saúde, onde a reunião com o ministro Luiz Henrique Mandetta durou pouco mais de uma hora. O prefeito chegou cedo. O encontro seria às 10h, mas ele já estava na portaria do ministério antes das 9h45 e teve que esperar a chegada do ministro, que só apareceu no prédio no horário marcado. Entre outras coisas, os dois conversaram sobre uma auditoria que poderá resultar na entrada de mais recursos federais para a saúde do Rio de Janeiro.
Em dezembro, em meio à crise no sistema de saúde da cidade, inclusive com paralisações e atrasos de salário, o ministério e a prefeitura chegaram a um acordo para o repasse emergencial de R$ 152 milhões. Na mesma época, ficou acertado que seria formada uma comissão com representantes do governo federal e da prefeitura para calcular valores devidos pela União em razão da municipalização, em 1995, de algumas unidades de saúde antes geridas pelo Ministério da Saúde. Isso poderá render até R$ 227,6 milhões adicionais, mas os números, uma vez calculados, deverão ainda ser analisados pela AGU.
Os R$ 152 milhões acertados em dezembro do ano passado já foram repassados ao município. Assim, durante reunião no ministério, foi feita a sugestão de incrementar o orçamento da saúde do Rio por meio das emendas ao orçamento feitas pelos parlamentares do estado. Em 2020, parte das emendas terão execução obrigatória, ou seja, o Executivo não poderá represar os valores. Além disso, o próprio parlamentar poderá determinar o envio do recurso diretamente ao município, sem intermediação da Caixa ou de qualquer outro órgão, e sem ter projeto específico. O prefeito gastará o recurso como quiser, desde que destine pelo menos 70% da transferência para investimento.
Sem agenda com Bolsonaro
Apesar de haver uma expectativa de levar as demandas pessoalmente a Bolsonaro, Crivella não foi recebido no gabinete presidencial. O prefeito foi ciceroneado pelo Secretário Especial de Comunicação (Secom), Fábio Wajngarten, que o levou para ser apresentado ao ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.
Em pouco mais de uma hora em que esteve no Planalto, Crivella aproveitou para dar uma entrevista exclusiva para a TV Record, de propriedade de seu tio, o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal. A declaração à emissora foi dada no segundo andar do palácio, e repórteres de outros veículos foram avisados que o local estava fechado até o encerramento da entrevista do prefeito, que estava sendo acompanhada por assessores do governo federal. Questionada, a Secom informou que não havia proibido a entrada de repórteres.
Antes de ir para o Planalto, Crivella e sua equipe almoçaram em um restaurante em um shopping em Brasília. Abordado pela reportagem do GLOBO, o prefeito não quis dar declarações.
— Vim para dar continuidades às questões da Saúde — respondeu ao GLOBO.
Ao chegar no Planalto às 14h20, o prefeito prometeu falar com a imprensa na saída, mas foi embora também sem explicar o motivo de sua ida ao palácio.