Ano começa com fuga recorde de capitais estrangeiros

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Foto: Patricia Monteiro/Bloomberg

Os investidores estrangeiros retiraram R$ 4,6 bilhões da Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, até o dia 10 de janeiro, segundo dados compilados pela Bloomberg. É a maior saída líquida de recursos estrangeiros para as primeiras sete sessões da Bolsa no ano pelo menos desde 2008.

A saída ocorre após uma retirada recorde no ano passado. Em 2019, se forem excluídos os investimentos feitos via ofertas iniciais ou secundárias de novas ações, os estrangeiros resgataram R$ 44,5 bilhões da B3 — maior patamar desde 2004. Considerando as ofertas de ações, o resultado é negativo em R$ 4,7 bilhões.

Na leitura dos analistas, mesmo com a aprovação da reforma da Previdência no ano passado, ainda faltam medidas concretas para que o investidor estrangeiro volte colocar dinheiro no Brasil.

— No início de 2020, acompanhamos a repetição da tendência de saída de recursos que aconteceu em 2019. Mesmo com a Previdência aprovada, a demora no avanço de reformas importantes, como a tributária, e a insegurança jurídica afastam a entrada de recursos no país — indica Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.

Beyruti destaca que os juros na mínima histórica (Selic está no piso de 4,5% ao ano) também não atraem o investidor que quer muitos ganhos com pouco risco:

— Com as revisões para baixo dos juros, a relação de risco e retorno (carry trade) fica menos vantajosa. Isso também explica a saída de estrangeiros da Bolsa.

O carry trade é o nome dado a operação na qual o investidor pega um empréstimo em países com juros baixos (como EUA, Japão e membros da União Europeia) e aplica a quantia em títulos de países emergentes, que geralmente têm juros elevados.

Uma vez que a tendência brasileira é de queda de juros, e a economia america (mais forte do mundo) segue gerando grande quantidade de postos de emprego e mantém os juros inalterados, o mercado brasileiro fica menos atrativo para o investidor estrangeiro.

A alta de 31,58% na Bolsa brasileira em 2019, portanto, foi motivada principalmente pelos investidores brasileiros, que passaram a investir mais em ações em meio a uma queda de juros para as mínimas históricas.

— O estrangeiro não se animou tanto quanto o investidor local — disse Pedro Sales, sócio e gestor da estratégia de ações brasileiras da Verde Asset Management. — A Bolsa se tornou muito mais interessante para o brasileiro, que viu o seu custo de capital (a taxa de juros) sair de um patamar super alto para um patamar super baixo.

Com a taxa básica de juros Selic a 4,5%, contra 14% há apenas alguns anos, os brasileiros têm buscado cada vez mais alternativas aos seus investimentos tradicionais em fundos de renda fixa, títulos do Tesouro ou poupança. No ano passado, o investidor pessoa física respondeu por mais de 18% da negociação na bolsa brasileira, a maior fatia desde ao menos 2013, segundo dados da B3.

Analistas preveem para 2020 que a Bolsa terá seu quinto ano seguido de resultados positivos. E acreditam que uma retomada mais consistente da economia brasileira poderá atrair os investidores estrangeiros para a B3.

O Brasil está bem preparado para receber muito interesse por parte dos investidores mais adiante- disse Ray Zucaro, diretor de investimentos da RVX Asset Management em Miami. De acordo com ele, uma combinação de moeda estável, juro menor e avaliações interessantes das empresas brasileiras devem ajudar o Brasil a se destacar na América Latina.

— Os investidores estrangeiros estão dando um olhar mais atento e “fazendo seu dever de casa” com Brasil — disse Zucaro.

O Globo