Milícia virtual sai em defesa de Moro

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A proposta de recriar o Ministério da Segurança Pública e esvaziar a pasta hoje comandada por Sergio Moro — depois descartada pelo presidente Jair Bolsonaro — mobilizou no Twitter mais de 300 mil menções em apenas 24 horas, entre a última quinta-feira e ontem. É o que aponta um levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP/ FGV) feita a pedido do GLOBO.

Os dados revelam que o debate na plataforma sobre a mudança na pasta comandada por Moro ficou concentrado em grupos à direita e da base de apoio ao governo. Segundo a DAPP/ FGV, esses perfis foram responsáveis por 82% dos tuítes sobre o assunto na rede social. Já os perfis ligados à oposição a Bolsonaro, com críticas ao presidente e também a Moro representaram apenas 15% das publicações.

Na base de apoio ao presidente, as publicações majoritariamente defenderam a manutenção da Segurança Pública no ministério de Moro e fizeram elogios ao desempenho do governo na área, sem criticar diretamente o presidente. Um dos principais pontos mencionados por esses usuários do Twitter foi a redução de índices de criminalidade ao longo de 2019.

Levantamento do Monitor da Violência, do G1, indica que houve redução de 22% nos homicídios dolosos no país entre janeiro e setembro do ano passado em relação ao mesmo período de 2018. Especialistas ponderam, no entanto, que não há um fator único capaz de explicar a queda de homicídios e que a atuação de governos estaduais também deve ser considerada.

Pressão social
Estudioso do bolsonarismo, o professor do Departamento de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia David Nemer defende que a pressão da base do governo nas redes sociais tem relação direta com o recuo de Bolsonaro na recriação da pasta e com outras decisões recentes do presidente, como a demissão do secretário de Cultura, Roberto Alvim, após seu discurso com referências nazistas.

— Bolsonaro usa sua audiência no Twitter para entender como sua base vai reagir. Sempre está ali ouvindo, é um laboratório de experiências — diz o pesquisador, acrescentando: — Bolsonaro não quis se contrapor a sua base pró-Moro e Lava-Jato, que é importante e não é tão fiel a seu governo.

Não à toa as reações de seus apoiadores levaram o presidente a se manifestar em suas próprias redes sociais ontem. Bolsonaro publicou um vídeo pedindo “calma” aos seus seguidores e defendendo que eles não “potencializem” discordâncias que tenham com o governo. Apesar de não se referir ao debate sobre a pasta da Segurança Pública, o presidente disse que acompanhava as redes sociais “apesar da internet no avião ser muito fraca”, indicando que estava tratando de uma discussão que ocorreu enquanto viajava para a Índia.

— Não espere que eu esteja 100% contigo, nem no casamento dá 100%. E aqui tem coisa que a gente destoa. Agora, não potencializem isso. E me critiquem quando eu realmente errar. Se eu errar, desce o cacete. Enquanto está em fase de gestação, discussão, estudo, calma, pessoal, calma aí, senão, não vai dar certo — disse Bolsonaro no vídeo, feito dentro de um carro, em Nova Délhi.

Nemer, da Universidade da Virgínia, destaca ainda que a estratégia de usar a rede social para avaliar o humor da própria base começa a ser adotada também por Sergio Moro. Depois de criar uma conta no Twitter, o ministro aderiu anteontem ao Instagram, onde seu perfil já soma mais de 600 mil seguidores 24 horas após sua criação.

— O perfil no Instagram vem justamente para o Moro ficar mais próximo da população e ver como ela está reagindo. Quanto mais presença nas redes sociais, mais forte Moro fica e mais recuado fica Bolsonaro. Moro acaba virando ameaça porque sua base se sobrepõe a de Bolsonaro — analisa o pesquisador.

O Globo.