Casa Civil é cadeira elétrica para quem a ocupa

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Sérgio Lima/Poder260

Ministério com o maior status do governo nos últimos anos, a Casa Civil se transformou em uma “cadeira elétrica”. Quem passou pelo quarto andar do Palácio do Planalto, onde fica a estrutura da pasta, virou uma vitrine – para o bem ou para o mal. Alçados ao cargo por serem os principais assessores do chefe do Executivo, ex-ministros foram alvo de denúncia, escândalos e até prisão – quatro caíram do cargo nos últimos 15 anos.

No governo do presidente Jair Bolsonaro, o fantasma agora assombra Onyx Lorenzoni com uma fritura interna e demissão de auxiliares. As férias de Onyx não serviram para dar sossego ao ministro, mas para incomodá-lo com a demissão de dois de seus principais auxiliares: Vicente Santini e Fernando Moura (que deixou de ser o número 2). E isso somado ao fato de ter ficado sem as funções da articulação política e agora sem o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).

Quinze anos atrás, quem enfrentou problemas no cargo foi José Dirceu, superministro de Lula. O então ministro saiu pelas portas do fundo com o escândalo do mensalão. Anunciou o pedido de demissão dizendo estar com as “mãos limpas”. Atualmente, Dirceu ainda é atormentado com idas e vindas da prisão pela Operação Lava Jato.

Depois dele, o bastão passou para Dilma Rousseff, Erenice Guerra, Antonio Palocci, Gleisi Hoffmann, Aloizio Mercadante, Jaques Wagner e Luiz Inácio Lula da Silva – todos alvos da Justiça antes ou depois do cargo.

Lula chegou a ser nomeado como ministro da Casa Civil em 2016 durante o andamento do processo de impeachment de Dilma. Teve cerimônia no Palácio do Planalto, mas a nomeação foi suspensa pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. No mesmo dia, o então juiz Sérgio Moro, hoje ministro da Justiça, divulgou o áudio de uma conversa entre Dilma e Lula em que ela afirmava ao ex-presidente que mandaria a ele o “termo de posse” para “caso de necessidade”. Esse é o episódio que dá mais dor de cabeça até hoje a Moro, que chegou a pedir desculpas ao STF por ter retirado o sigilo do áudio.

Dilma, levada para a “cadeira elétrica” como um preparatório para suceder a Lula na Presidência, trouxe Erenice Guerra junto e a deixou como ministra em 2010, ano de eleições presidenciais. No mesmo ano, a auxiliar de Dilma enfrentou denúncias de tráfico de influência, com o envolvimento dos filhos, e foi forçada a pedir demissão. Em 2011, a maldição da cadeira foi herdada por Antonio Palocci. Este abandonou o cargo no mesmo ano após ser acusado de aumentar o patrimônio próprio em 20 vezes.

Com Dilma Rousseff, é repetição lembrar o que aconteceu: um impeachment no meio do segundo mandato, investigações na Lava Jato e uma campanha malsucedida para o Senado em Minas Gerais. No caso de Lula, foi só uma nomeação à Casa Civil, mas o petista foi impedido de tomar posse pelo Supremo Tribunal Federal (STF). De lá para cá, mais de 500 dias na prisão e uma coleção de denúncias na Lava Jato.

Após o impeachment, Michel Temer colocou Eliseu Padilha, cacique do MDB e um dos seus principais assessores, na cadeira. A consequência política que o cargo lhe impôs teve um roteiro parecido ao dos antecessores petistas: Padilha pegou carona nas denúncias do presidente por organização criminosa, teve os bens bloqueados e até hoje precisa se explicar à Justiça.

Agora, a “batata quente” está com Onyx. O ministro volta das turbulentas férias na próxima semana esperando de Jair Bolsonaro uma definição sobre seu ministério esvaziado e seu próprio futuro no governo.

Estadão