Bolsonaro manda seus pitbulls recuarem
Foto: Alan Santos/PR
O presidente Jair Bolsonaro mandou sua equipe recuar e baixar a temperatura em meio à nova crise com o Judiciário, desta vez com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O próprio presidente atuou para acalmar os ânimos, entrando em contato direto com o ministro do STF, com quem tem bom relacionamento.
Segundo assessores, num primeiro momento Bolsonaro considerou correta a resposta de militares às declarações de Gilmar Mendes.
No fim de semana, o ministro criticou a militarização do Ministério da Saúde e alertou para o risco de as Forças Armadas se associarem a um genocídio por causa dos efeitos do novo coronavírus no país.
O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica divulgaram nota criticando Gilmar Mendes – principalmente pelo uso do termo genocídio – e avisaram que fariam uma representação contra o ministro na Procuradoria-Geral da República (PGR).
Na avaliação da equipe presidencial, os militares “demarcaram” o terreno, na linha de que o ministro pode até fazer críticas, mas não “extrapolar” e fazer ataques “abaixo da linha da cintura”. Agora, o momento seria de recuar e baixar a temperatura.
Essa foi a linha transmitida pelo presidente para sua equipe, na busca de manter um clima de pacificação entre Executivo e Judiciário.
Na segunda-feira (13), um assessor da Presidência da República entrou em contato com Gilmar Mendes e disse que Bolsonaro queria conversar com ele sobre os acontecimentos dos últimos dias, numa referência às críticas feitas pelo ministro do Supremo no fim de semana.
No mesmo dia, Gilmar Mendes ligou para o presidente da República. O ministro repetiu a Bolsonaro as críticas que já fez a ele em uma conversa anterior quando alertou para o risco de o Brasil ser questionado no Tribunal Penal Internacional, em Haia, pela política de combate ao coronavírus.
Na conversa desta semana, o presidente buscou acalmar os ânimos, mas não deixou de reclamar do uso do termo genocídio por Gilmar Mendes. Bolsonaro disse ter orientado o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, a conversar com ministro do Supremo para falar sobre as ações da pasta.
No dia seguinte, Gilmar Mendes e Eduardo Pazuello conversaram por telefone. O ministro da Saúde se colocou à disposição para fazer esclarecimentos sobre os postos ocupados por militares na Saúde e as ações de sua equipe. A conversa foi classificada pelos dois lados como “boa e cordial”.
Dentro de sua estratégia de evitar que a crise aumentasse, Jair Bolsonaro não deu nenhuma declaração pública sobre o episódio. Preferiu agir nos bastidores. Principalmente colocando “panos quentes” na tensão.
O presidente da República mudou seu comportamento em relação ao Judiciário, buscando uma pacificação após assumir em diversas oportunidades uma postura de enfrentamento contra decisões do STF.
A mudança ocorreu depois que várias investigações do STF começaram a atingir sua família e aliados.
Interlocutores convenceram o presidente de que alimentar uma tensão com o Judiciário, num momento em que vários inquéritos miram seus filhos e apoiadores, acabaria prejudicando seu governo.