Haddad faz defesa de Lula ao Globo
Foto: D.Ramalho/AFP
Numa entrevista gravada quarta-feira, Fernando Haddad defendeu Lula, que enxerga maior que o PT, disse por que o partido descartou participar da frente democrática e explicou como entende que se deve lidar com a corrupção.
É possível trabalhar primeiro pela democracia e depois pelo PT?
Parte da democracia é garantir que as visões políticas sobrevivam. O jogo democrático depende de que o cardápio de possibilidades seja oferecido para o eleitor. Ele é quem vai decidir o rumo do país, e para que ele faça isso da maneira mais livre possível deve ser exposto a visões diferentes de como enfrentar os principais desafios nacionais. O PT tem que compreender que existe uma ameaça à democracia, que é real, não é uma fantasia nem uma paranoia. Nós temos que construir condições, sem perder as nossas especificidades e peculiaridades, de apresentar um projeto progressista de centro-esquerda para o eleitorado no primeiro turno, que seja o mais amplo possível, e que construa um entendimento em torno dessa ameaça que pode afetar o país de maneira negativa e de forma duradoura.
Por que o PT descartou apoio à frente democrática?
Participarmos dos atos de defesa da democracia sempre suspeitando que a centro-direita não iria até o fim na investigação contra o Bolsonaro. O que se confirmou. As ações criminosas do governo federal na economia, na pandemia e contra as instituições não foram motivo sequer de apuração da classe política. Essa era a objeção, de que não estava claro o objetivo daquela frente, até onde ela estava disposta a ir para fazer o governo responder pelos seus atos.
Como explicar o apoio a um bolsonarista em Belford Roxo?
Eu lamentei profundamente a decisão sobre Belford Roxo, acho um equívoco, inclusive simbólico. Por mais legitima que seja a justificativa, de que na verdade o candidato (Waguinho, MDB) não é propriamente um apoiador de Bolsonaro, eu considerei um equívoco, porque tudo o que você tem que explicar em política, é melhor você não fazer.
Como o PT lida com os inúmeros casos de corrupção em que se envolveu?
O problema foi que se adotou uma prática medieval de combate à corrupção, ao se estigmatizar toda uma agremiação política em função do comportamento de uma ou outra pessoa. O PT jamais manobrou os instrumentos de que dispunha para coibir o combate à corrupção. Ao contrário, fortaleceu as instituições, sem exceção, sem segundas intenções, mesmo nos piores momentos que nós passamos, no mensalão e na Petrobras. As pessoas têm que responder pelos seus atos enquanto indivíduos. Não defendo absolutamente nenhum tipo de alívio para culpados, nem acho que o PT deva adotar em relação ao PSDB a mesma atitude que o PSDB teve conosco. Já fui a público defender o governador Geraldo Alckmin. Sempre convivi com ele em ambientes muito tensos, que envolviam interesses privados, e nunca ouvi nada que o colocasse em dúvida. O dia que eu tiver que abdicar da defesa de uma pessoa, da sua respeitabilidade e integridade, por razões partidárias, eu deixo de ser digno da política. O fato é que chegamos a um paradoxo. O governo que foi eleito a partir dos escombros do sistema partidário trouxe para a sua base o que há de pior no Brasil, a razão da destruição do próprio sistema. Ao instrumentalizar a Justiça com fins políticos, abre-se uma avenida para o oportunismo e a desfaçatez.
O PT deve seguir com Lula?
Na defesa do Lula nós vamos até o final. Não há discussão dentro do PT em relação às injustiças e arbitrariedades que foram cometidas contra o Lula. A visão sobre os processos contra o Lula de Curitiba só piora. Daqui a dez anos vai ser pior do que hoje, e em 20 anos vai ser muito pior. Não tem como melhorar aquilo, é uma narrativa historicamente fracassada. Feita a defesa do Lula e revertido o processo no Supremo, aí nós vamos discutir internamente o que é melhor para o partido, inclusive com o próprio Lula.
O PT tem medo de se apequenar sem Lula? Lula é maior que o PT?
O PT não vai voltar as costas para a pessoa que mais ajudou a construir esse partido. Quando um líder carismático como o Lula assume a Presidência, ganha quatro eleições presidenciais consecutivas e deixa o poder no patamar que deixou, ele se torna uma figura emblematicamente maior que o seu partido. É natural que isso seja assim. Poucas pessoas vão lembrar qual era o partido do Mandela na África do Sul, porque ele se tornou uma figura maior, um expoente da nacionalidade. Não é incomum na História que isso aconteça a uma pessoa que teve a trajetória do Lula. O que seria incomum é o partido que se beneficiou dessa trajetória deixar de levar isso em consideração.
Um dos meus pré-leitores me indagou “por que Haddad?”. Pensei em responder “porque sim”, mas perguntei “por que não?”. Haddad foi candidato a presidente e obteve 47 milhões de votos, 44,8% dos brasileiros confiaram nele os seus votos em 2018. Foi ministro da Educação por quase sete anos e prefeito da maior cidade brasileira. É bom diversificar nestes dias em que a palavra pertence quase que exclusivamente a Arthur Lira, Ricardo Barros e Ciro Nogueira. E também aos zeros e a Damares.
Um dos bons deputados da Câmara Federal já identificou de onde partem os principais ataques ao projeto de prisão em segunda instância que tramita na casa. Como muito provavelmente a lei que se obtiver daí não retroagirá, os que trabalham contra não estão se protegendo de assaltos que já cometeram, mas de eventos futuros. “Tem os que já delinquiram e querem passar uma borracha no passado, e tem os que delinquiram e vão continuar delinquindo. Para estes, o projeto tem que cair”.
É astronômica a incompetência do governo federal. A derrubada do veto ao reajuste dos salários do funcionalismo no Senado mostra bem como as coisas vão mal. Primeiro, se queria mesmo impedir reajustes para servidores, não poderia ter permitido que seus líderes negociassem no Senado as brechas que afinal Bolsonaro vetou a pedido de Paulo Guedes. Quer dizer, autorizou um projeto e em seguida o vetou. Depois, tem que ser muito fraquinho mesmo para perder uma votação dessa importância por apenas dois votos. Até Dilma conseguiria dois votinhos no Senado.
Cinquenta e um anos depois de o homem pisar na Lua, a CNBB acusou uma menina de dez anos de cometer crime hediondo por se submeter a um aborto depois de ter sido estuprada dentro de casa por um tio. Ao atacar a criança, o bispo Walmor Azevedo, presidente da entidade católica, posicionou-se do lado retrógrado do debate. Não que se queira uma CNBB progressista, como já foi no passado, mas um pouco mais de discernimento não lhe faria mal. Obrigada a entrar no assunto, a entidade faria melhor se se expressasse contra o aborto de maneira genérica e atribuísse ao estuprador a prática de crime hediondo. Mas, enfim, não se podia mesmo esperar que Walmor Azevedo fosse pelo menos uma pálida sombra de Hélder Câmara ou de Paulo Evaristo Arns.
O deputado Diego Andrade (PSD-MG) é autor de um projeto de lei que estabelece medidas preventivas e punições a alunos que agredirem professores em sala de aula. Os ataques em escolas são muitas vezes brutais e covardes e obviamente devem ser contidos. O projeto tem esta intenção, que é boa. Seu problema é que mexe com o Código Penal, no capítulo das infrações cometidas por menores de idade, e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Com um governo como o de Jair Bolsonaro, melhor redobrar os cuidados para não abrir flancos por onde passam boiadas.
Nos Estados Unidos, quatro milhões de crianças em idade escolar não têm acesso à internet em suas casas. No Brasil, com cem milhões de habitantes a menos, são 4,8 milhões. Para essas crianças, a solução educacional durante a pandemia pode ser a televisão. No Peru, no México e em alguns países africanos a experiência com tv educativa comunitária é caso de sucesso. No estado de Nova Jersey, nos EUA, a TV pública local trabalha com o sindicato dos professores para atender os 300 mil alunos sem acesso digital e reduzir a distância que separa alunos de poucos recursos dos mais abastados. No Brasil…
Pelo menos 800 pessoas já morreram e milhares foram hospitalizadas no mundo por ingerir álcool 70° imaginando estar combatendo o coronavírus. São pessoas que compraram a mentira nas redes sociais.
Estudo da Associação Americana de Psicologia com um grupo de 264 pessoas, majoritariamente brancas, mostrou que jovens negros têm sempre suas idades superestimadas em razão da cor da sua pele. O grupo aumentou em média 4,5 anos a idade dos negros e, também por maioria, considerou que estes têm mais cara de culpados de crimes alegadamente cometidos do que brancos e mesmo latinos. O estudo concluiu que jovens negros são muitas vezes erroneamente considerados adultos e que para crianças negras a “inocência” acaba muito mais cedo do que para as brancas.
Digitei no Google “artistas defendem Romero Britto” e surgiu apenas uma pessoa lamentando agressão sofrida por ele em 2017 e viralizada em vídeo esta semana. Era o Neto, ex-jogador e atual comentarista de futebol. Não gostar da obra de um artista é normal, não se indignar com a destruição da sua obra não é.