PT não consegue fazer Tatto desistir
Foto: Silvia Costanti/Valor
A proposta de fazer uma primária entre os candidatos do PT, Psol e PCdoB para unir a esquerda em São Paulo fracassou. Com a resistência de parte do PT em apoiar a pré-candidatura de Jilmar Tatto na capital paulista, petistas passaram a incentivar uma ampla votação, às vésperas da convenção partidária, para escolher uma candidatura única das três legendas. O pré-candidato petista disse aceitar a primária, mas o PCdoB atacou a ideia e o Psol desconversa sobre essa possibilidade.
A tentativa de tirar Jilmar Tatto das eleições, apoiada por petistas que resistem ao pré-candidato e migraram para a campanha de Guilherme Boulos (Psol), voltou a ganhar força depois que o próprio postulante do PT disse não ser contra uma primária neste momento. Em entrevista à “Revista Fórum”, Tatto disse que a proposta não está amadurecida o suficiente, mas pode ser discutida pelo partido. “Se me perguntarem ‘você topa uma primária?’, eu topo. Mas se o PT não sair candidato, quem vai defender o nosso legado?”, disse o petista. Procurado pelo Valor, Tatto não quis se manifestar, mas sua assessoria afirmou que as declarações dadas na entrevista estão mantidas.
Assim que Tatto falou que “topa” a primária, o vereador Eduardo Suplicy disse que poderia viabilizar a proposta e procurou os pré-candidatos do Psol (Guilherme Boulos) e do PCdoB (Orlando Silva). Para Suplicy, ainda há tempo de escolher um candidato único, antes do fim das convenções partidárias, no dia 16. “É perfeitamente legítimo escolher um candidato comum”, disse o vereador, que tentou se viabilizar como pré-candidato à prefeitura, mas desistiu para tentar um novo mandato na Câmara Municipal. “Desde que Jilmar foi escolhido, defendi uma relação respeitosa e construtiva com partidos progressistas, para estarmos unidos”, afirmou. Suplicy disse ter entrado em contato até mesmo com o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo para pedir ajuda para organizar uma eventual primária. O colégio eleitoral, disse, poderia ser de todos os eleitores que quisessem participar.
Os três partidos, no entanto, teriam que mudar a data de suas convenções: PCdoB e Psol marcaram as suas para o dia 5 de setembro e o PT, para o dia 12.
A primária já havia sido defendida por Suplicy, com o apoio do deputado Carlos Zarattini, no ano passado, em congresso municipal do PT paulistano. No entanto, a proposta foi derrotada. Zarattini, que também tentou ser pré-candidato do PT, mas desistiu, disse que o grande desafio hoje é a candidatura de Tatto empolgar a militância petista.
“Tatto foi escolhido dentro das regras e tem legitimidade, mas o processo todo de escolha foi mal conduzido. O PT não buscou uma aliança com a esquerda e nem unidade interna”, disse Zarattini. “Cabe agora ao PT e ao candidato empolgarem a militância. Estamos preocupados, mas o partido tem uma base organizada maior do que a do Psol, por exemplo. Mas se a candidatura não empolgar e ficar enfraquecida, vão atazanar o PT a campanha inteira com isso”, afirmou o deputado.
Pré-candidato do PCdoB e presidente do diretório de São Paulo, Orlando Silva ironizou a proposta de primária e o isolamento da pré-candidatura petista. “É um factóide. Tatto deve estar muito assustado com tanta gente do PT traindo ele”, disse Silva. “Mas as coisas não são assim. Não dá para mudar o candidato aos 47 minutos do segundo tempo”, disse o pré-candidato. “É muita cara de pau defender primária agora. É coisa de quem não quer apoiar Tatto.”
Lideranças petistas e ex-apoiadores do PT como frei Betto, o ministro Celso Amorim e o ex-porta-voz do governo Lula André Singer declararam apoio a Boulos, em detrimento a Tatto.
Guilherme Boulos, do Psol, usou as redes sociais para falar sobre o ressurgimento da tentativa de unir a esquerda em São Paulo. “Sempre defendi e defendo uma consulta ampla ou outras formas que levem à unidade. Isso, é claro, depende de um acordo entre os partidos do nosso campo”, afirmou Boulos no Twitter.
O presidente nacional do Psol, Juliano Medeiros, no entanto, disse que não houve nenhum contato da direção do PT ou de outro partido de oposição para discutir a primária. “Se houver, obviamente, vamos analisá-la com o máximo respeito e atenção”, disse.