Ao marqueteiro do PT
Os jornais do domingo trazem uma sucessão de matérias sobre “desânimo” na campanha de Dilma Rousseff. Atribuem esse estado de espírito ao advento do segundo turno. A profusão desse teor de matérias, muito além da conta, dá a medida não só de como esses veículos seguem atuando em grupo, mas do fato concreto de que tal desânimo é real.
Em vez da adoção das táticas difamatórias do adversário que alguns simpatizantes do PT pensam que é a solução neste momento, portanto, prefiro ocupar meu tempo com a elaboração de uma estratégia de esclarecimento dos fatos que considero limpa e eficaz.
Cena 1
Dois homens assistem a uma partida de futebol na tevê. São torcedores de um dos times em campo. A produção da cena trata de produzir algum diálogo casual entre eles de forma a tornar ainda mais verossímil uma situação que ocorre exaustivamente no cotidiano do brasileiro.
A partida começa. Logo nos primeiros segundos, o atacante do time para o qual os dois homens torcem dispara em direção à pequena área, dribla um, dribla dois e, enfim, é “calçado” por um zagueiro quando está prestes a marcar um gol diante de um goleiro que com seus dribles tirou da jogada.
Os jogadores dos dois times olham para o juiz, os dois homens que assistem à cena também olham para o canto da tela que enfocará a penalidade e o juiz observando-a. Em câmera lenta, o juiz não marca o pênalti. Das reações indignadas da equipe prejudicada, a câmera se volta para os dois homens que assistem à partida, que aparecem igualmente inconformados.
Cena 2
O atacante do time beneficiado uma vez pelo juiz recebe a bola em impedimento, dispara em direção ao gol adversário, dribla o goleiro e marca um tento. A câmera enfoca os dois torcedores do sofá correndo em direção à televisão, na qual também se pode ver os jogadores correndo em direção ao juiz.
A cena congela nesse ponto e entra o rapaz bonitão ou as duas garotas lindinhas da propaganda de Dilma Rousseff. Pode ser o rapaz, com aquele ar de moço sincero, ou aquela mocinha com ar angelical ou aquela bela negra de aparência franca e sagaz. Um deles diz a seguinte frase:
— Quando aquele que deveria zelar pela justiça em uma disputa resolve ser injusto ajudando um lado e prejudicando o outro fica mais difícil ganhar. Assim mesmo, muitas vezes uma equipe vence apesar da injustiça da arbitragem e das jogadas sujas do adversário.
Neste ponto, o escolhido para a locução aponta em direção à tela da TV. Na cena seguinte, o atacante do time prejudicado dispara de novo em direção à área, sofre nova tentativa de pênalti, o juiz rouba de novo e não marca, mas o jogador se safa do zagueiro que tentou derrubá-lo, dribla o goleiro e marca o gol.
O moço e as duas moças da campanha de Dilma agora entram em frente da cena da comemoração do time injustiçado. E, um a um, vão dizendo o seguinte texto:
— Este jogo poderia ter sido resolvido no tempo regulamentar, mas jogadas sujas e uma arbitragem desonesta daquele que deveria zelar pela igualdade de oportunidades levaram a partida para a prorrogação.
— O que acontece no campo, muitas vezes pode acontecer na política. Os jogadores são os candidatos e os juízes são instituições como a imprensa e a Justiça. O povo fica na torcida, tanto nos estádios quanto nas eleições.
— Você não pode interferir como torcedor de futebol, mas pode interferir como eleitor. Ninguém quer tirar o juiz de campo em uma partida de futebol. O que se quer é que ele seja honesto. Mas como eleitor você pode contrariar a opinião do juiz e votar no injustiçado.
Nesta fase da campanha, esse comercial levaria as pessoas a refletirem sobre a equidade do jogo eleitoral que está sendo disputado entre Dilma Rousseff e José Serra. Não teria havido nenhum “ataque à imprensa” nem daria para chamar a peça de tentativa de censura.
Há meios de levar as pessoas a pensarem, de tirá-las do transe gerado pelo bombardeio midiático. E é preciso fazê-lo. Serra não tem apenas o horário eleitoral da TV, durante 30 minutos esquartejados e divididos ao longo da programação diária. Tem propaganda de toda a grande imprensa o tempo todo. Só que, em vez de falar bem dele, fala mal da adversária.
Não se pode deixar de reconhecer que esta eleição, até aqui, tem feito velhas estratégias funcionarem como não funcionaram em 2002 e em 2006. E o mais paradoxal nessa situação é que velhas estratégias como a da “terceira via” e a da maledicência ou dos escândalos pré-eleitores funcionaram. Até porque, o eleitor hoje não está mais no desespero…
Vejam só essa questão do aborto. Em 2002, por exemplo, não teria colado. A onda vermelha cobriu o Brasil porque ninguém estava ligando para o terrorismo eleitoral. O país estava arrasado. Não havia emprego, a inflação disparara, o clima era de tentar alguma coisa porque mais uma vez um governo salvacionista havia dado com os burros n’água.
Hoje, estamos nos dando ao luxo de sociedades desenvolvidas ao colocarmos os tabus moralistas acima do bolso. Parte da população se esqueceu do que foram os anos difíceis em que o PSDB governava. Novamente a campanha de Dilma não se lembra de lembrar à sociedade a situação da qual este governo a tirou.
Assim fica realmente difícil, não acha, sr. Marqueteiro do PT?