Guedes teme que Bolsonaro “passe a boiada” no teto de gastos

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução / Google

O vice-presidente Hamilton Mourão defendeu o avanço das reformas econômicas, em especial a tributária, e sem furar o teto de gastos, que limita a expansão das despesas públicas. Segundo ele, a possibilidade de permitir algumas exceções é o grande medo do ministro da Economia, Paulo Guedes, porque há o risco de “passar a boiada”. Em outras palavras, na discussão do que estaria dentro e fora do teto, vários tipos de despesa poderiam ser contemplados. As declarações foram dadas ao programa “Direto ao Ponto”, da Rádio Jovem Pan.

Mais cedo, nesta segunda-feira, o governo lançou o programa “Renda Cidadã”, financiado com recursos destinados ao pagamento de precatórios e ao Fundeb, o fundo da educação básica. Isso evitaria furar o teto. Mas, segundo críticos, como o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Bruno Dantas, usar recursos do Fundeb é um forma de “mascarar” mudanças no teto de gastos.

Nesta segunda-feira, questionado se estava otimista com as reformas, ele elogiou o Congresso e o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, que, segundo ele, são reformistas. Depois emendou: “Se nós não avançarmos nessas reformas, o país corre o risco de entrar numa situação padrão dos nossos vizinhos, de inflação alta, de dólar extremamente alta, de dívida impagável. Então, nós temos que avançar nisso”.

Foi questionado em seguida qual seria a reforma prioritária. “Para mim a tributária, acoplada com a questão dos gatilhos para o teto de gastos. Porque não podemos furar o teto. O teto hoje é a única âncora fiscal que temos. Existe uma discussão. Tem aquela discussão: vamos tirar algumas despesas do teto. É o grande medo que Paulo Guedes tem. Quando for votar quais são as despesas, vou usar aquele termo que jocosamente se usa hoje, acaba passando uma boiada”, respondeu Mourão.

A expressão “passar a boiada” foi uma referência ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Em reunião ministerial no dia 22 de abril deste ano, Salles disse que aquele momento, em que as atenções estavam na pandemia de covid-19, seria bom para passar a boiada e mudar a legislação ambiental.

Questionado se há chances de o Renda Cidadã dar certo, Mourão disse: “Estão buscando uma linha de ação. Hoje eu vi aquela linha de ação que soma precatório com Fundeb para atingir um valor. Aí, pô, bolsa despenca, dólar sobe, porque vai furar um teto. Tem que buscar a linha de ação que consiga… Porque uma realidade qual é? Temos um grupo de brasileiros que está extremamente fragilizado que não tem uma perspectiva de curto prazo de uma retomada do emprego mais ampla. Vamos ter uma retomada paulatina do emprego. A gente precisa dar algum estímulo e alguma capacidade para que a pessoa ganhe a vida”.

Indagado sobre o que o governo poderia fazer de errado para atrapalhar a reeleição de Bolsonaro, o vice-presidente destacou o papel da economia. “O mais errado é a condução da economia. É aquela velha conversa: é a economia, estúpido. Se a gente conseguir não furar o teto, mantiver o juro baixo, controlando a inflação, o dólar voltar a um nível aceitável, e com isso os investimentos retornarem, eu julgo que o presidente chegará a 2022 em uma boa prancha”, avaliou Mourão.

Valor Econômico