
Escândalo da vacina superfaturada pode derrubar Ricardo Barros
Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
O Palácio do Planalto não vê no caso Covaxin um escândalo com o potencial para derrubar o presidente Jair Bolsonaro. Mas a avaliação entre ministros e outras fontes do governo é que o episódio traz mais desgaste para Bolsonaro e pode ter consequências políticas.
A mais imediata seria a queda do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), caso haja novas revelações. Outra constatação é que a CPI da Covid no Senado, prevista para durar três meses, deve ser estendida. Ministros dizem não crer, porém, que o escândalo desencadeará uma reforma ministerial para acomodar a base.
Uma comparação rechaçada no governo é com o Fiat Elba de Fernando Collor, que acabou sendo decisivo para o impeachment em 1992. À época, constatou-se que a perua do então presidente havia sido adquirida com dinheiro de contas fantasmas de Paulo César Farias, tesoureiro da campanha de Collor em 1989.
No caso da Covaxin, o entendimento no Planalto é que “falta materialidade”. Ou seja, faltam provas concretas de que o presidente deixou de tomar providências quando alertado pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF), conforme relatou o parlamentar na última sexta à CPI da Covid. Também não há provas de que Miranda ouviu de Bolsonaro que Barros foi o responsável pelo suposto favorecimento.
O governo entende que Barros é a figura mais afetada por Miranda. Porém, ministros ouvidos pelo Valor afirmam não ver, no momento, motivos para que o governo substitua seu líder. Parte deles acredita, além disso, que uma troca de liderança no momento seria “acusar o golpe” e daria credibilidade às denúncias de Miranda à CPI.
Mas substituição não encontraria resistência no Planalto, caso contasse com o aval do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Ministros dizem ainda que Barros está enfraquecido desde a troca no comando da Câmara em fevereiro, quando Lira assumiu o lugar de Rodrigo Maia (sem partido-RJ).
Aliados de Bolsonaro no Congresso também acreditam que Barros deve permanecer na liderança, ao menos em um primeiro momento. A eventual queda, porém, seria inevitável caso ficasse comprovada a sua pressão para acelerar a compra da Covaxin.
Em caráter reservado, um líder do Centrão reconhece que a situação pode se complicar e que Lira, correligionário de Barros, dificilmente trabalhará para que ele fique no posto. “Ele e o presidente da Câmara nunca se deram bem. Lira pode aproveitar para tentar emplacar um aliado na liderança do governo”, disse.
Ontem, Barros soltou nota se defendendo das acusações. “Fica evidente que não há dados concretos ou mesmo acusações objetivas, inclusive pelas entrevistas dadas no fim de semana pelos próprios irmãos Miranda”, disse. “Assim, reafirmo minha disposição de prestar os esclarecimentos a CPI da Covid e demonstrar que não há qualquer envolvimento meu no contrato de aquisição da Covaxin.”
O governo parece seguro quanto à resistência de Lira a abrir um processo de impeachment contra Bolsonaro.
Interlocutores do presidente da Câmara também avaliam que a chance de o processo de afastamento deslanchar é “quase impossível”, em especial porque o PP é um dos partidos mais próximos do governo federal. Lira já criticou a CPI em mais de uma oportunidade e demonstrou não ver evidências que sustentem o impeachment.
Apesar da polêmica em torno da oitiva dos irmãos Miranda à CPI, não há mudanças em relação à disposição de Lira em acatar um dos pedidos de impeachment contra Bolsonaro.
Parlamentares da base admitem, porém, que a decisão de bloquear o acesso de Luis Ricardo Miranda, irmão de Luis Miranda, ao sistema interno do Ministério da Saúde após o depoimento à CPI da Covid aumentam as suspeitas de que a dupla falou a verdade ao colegiado. Procurada, a pasta não se pronunciou até o fechamento da reportagem.
As denúncias dos irmãos Miranda devem ser incluídas no superpedido de impeachment de Bolsonaro que será apresentado na quarta-feira.
A peça reúne argumentos de mais de 100 outros pedidos já apresentados à Câmara e agora trará também possível crime de prevaricação de Bolsonaro por nada ter feito diante dos alertas de interesses escusos na negociação.
Assinatura
CARTA AO LEITOR
O Blog da Cidadania é um dos mais antigos blogs políticos do país. Fundado em março de 2005, este espaço acolheu grandes lutas contra os grupos de mídia e chegou a ser alvo dos golpistas de 2016, ou do braço armado deles, o juiz Sergio Moro e a Operação Lava jato.
No alvorecer de 2017, o blogueiro Eduardo Guimarães foi alvo de operação da Polícia Federal não por ter cometido qualquer tipo de crime, mas por ter feito jornalismo publicando neste Blog matéria sobre a 24a fase da Operação Lava Jato, que focava no ex-presidente Lula.
O Blog da Cidadania representou contra grandes grupos de mídia na Justiça e no Ministério Público por práticas abusivas contra o consumidor, representou contra autoridades do judiciário e do Legislativo, como o ministro Gilmar Mendes, o juiz Sergio Moro e o ex-deputado Eduardo Cunha.
O trabalho do Blog da Cidadania sempre foi feito às expensas do editor da página, Eduardo Guimarães. Porém, com a perseguição que o blogueiro sofreu não tem mais como custear o Blog, o qual, agora, dependerá de você para continuar existindo. Apoie financeiramente o Blog
FORMAS DE DOAÇÃO
1 – Para fazer um depósito via PIX, a chave é edu.guim@uol.com.br
2 – Abaixo, duas opções de contribuição via cartão de crédito. Na primeira, você contribui mensalmente com o valor que quiser; na segunda opção, você pode contribuir uma só vez também com o valor que quiser. Clique na frase escrita em vermelho (abaixo) Doação Mensal ou na frase em vermelho (abaixo) Doação Única
DOAÇÃO MENSAL – CLIQUE NO LINK ABAIXO
https://www.mercadopago.com.br/subscriptions/checkout?preapproval_plan_id=282c035437934f48bb0e0e40940950bf
DOAÇÃO ÚNICA – CLIQUE NO LINK ABAIXO
https://www.mercadopago.com.br/subscriptions/checkout?preapproval_plan_id=282c035437934f48bb0e0e40940950bf