O amor das mulheres

Crônica

Meti-me em um debate sobre mulheres jovens que se casam com homens velhos. Revoltei-me com a previsível maledicência pasteurizada que uma sociedade hipócrita retira do armário de preconceitos que mantém toda vez em que se vê diante de casos assim.

Escrevi que as mulheres amam diferentemente. Que não pesam só a aparência ou o melhor vigor sexual de um homem. E, ao contrário da lenda em que homens e mulheres – em profusão – acreditam, não pesa só o dinheiro.

Em muitos casos, penso que não pesa nenhum desses fatores. Mulher gosta de conteúdo. Gosta de homem inteligente, até por conta de a maioria dos meus congêneres do sexo masculino não serem lá muito espertos, ao menos na visão delas – e elas têm algumas boas razões para pensarem assim, vejo-me na contingência de reconhecer.

Vejam o caso da mulher com quem me casei. Eu a conheci quando ela tinha 16 anos e eu, 18. Namoramos por três anos e, depois, acabamos separados por um ano.

Ela era uma beleza – que, aos quarenta e tantos anos, ainda persiste, apesar da luta dela com a nossa filha doente – e eu… Bem, não preciso lhes dizer que nunca fui exatamente bonito, do que a foto acima é prova.

O que ela viu em mim? Não era rico, não era bonito… Mas sempre tive a vaidade de me considerar inteligente. E era o que, em mim, encantava aquela gata. Durante toda a vida se jactou da minha “sabedoria” – em seu dizer – para a família e amigas.

E era uma beleza, a minha gata. Nenhum amigo acreditou que a estava namorando quando mostrei a foto dela, logo depois de iniciar o namoro. Até porque, nenhum deles tinha conseguido namorada tão bonita, até então.

E ainda devo confessar que ela não foi a única. Conheci e namorei outras garotas bonitas, ainda que nenhuma fosse amorosa, piedosa, terna e, sobretudo, corajosa como ela.

Vocês não sabem, mas fugimos para nos casar. Seus pais achavam que eu precisava ter mais “condições” para dar um passo daqueles – no que tinham razão, claro, pois fugimos e, depois, tivemos que comer o pão que o diabo amassou até eu me firmar.

Passamos fome juntos. Ela, linda, com uma família em boa situação, recebeu até sugestões para me deixar, para voltar a viver com a própria família a fim de ter uma vida confortável junto à filha que geráramos, mas jamais cogitou a hipótese. Dizia que acreditava em minha “sabedoria”.

Bem, tivemos quatro filhos e criei a todos com tudo do bom e do melhor. Ela sempre teve todo o conforto e até alguns luxos. Porque dediquei a essa família, que com ela construí, não apenas  amor, mas a fé mais pura e intensa que pode acalentar um ser humano.

Definitivamente, o amor das mulheres é diferente. Jamais conheci um homem bonito que se uniu a uma mulher feia e se manteve fiel a ela por trinta anos. Esse homem pode – e deve – até existir, mas jamais o conheci. Todavia, conheci outras mulheres como a minha.