Recessão do golpe se aprofunda
Os números dos setores de serviço e comércio em julho, divulgados nesta semana, frustraram a expectativa dos economistas, que projetaram alta para ambos.
Considerando o desempenho da indústria, que também não se recupera, o sinal é que há risco de estagnação da economia no restante do ano.
O volume de serviços caiu 2,2% em julho na comparação com o mês anterior, informou nesta sexta-feira (14) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Pesquisa da agência Reuters com analistas de mercado estimava alta de 0,4%.
O comércio, por sua vez, registrou o terceiro mês seguido de queda ao perder 0,5% em julho, também de acordo com pesquisa do IBGE divulgada na quinta (13). A projeção da Reuters era de alta de 0,3%.
A expectativa com os números de julho era grande porque este seria o primeiro mês de normalidade após os efeitos mais imediatos da paralisação de caminhoneiros.
Rodrigo Lobo, gerente de pesquisa do IBGE, observa que, se retiradas as oscilações de maio e junho no volume de serviços —que apresentaram, respectivamente, queda de 3,4% seguida de alta de 4,8%— o setor continua 1% abaixo dos resultados de abril.
“Ainda que no acumulado do ano a retração não seja tão grande [-0,8%], a desaceleração se prolonga”, diz.
Para este ano, a expectativa, segundo Lobo, é que o setor fique próximo da estabilidade, mas ele observa que a crise pode estar se aprofundando.
“No acumulado de 2015 a 2017, tivemos uma variação negativa de 11%. Mesmo que em 2018 a retração seja de menor magnitude, quando um setor cai em um momento em que já há queda, a tendência é que o ambiente fique desfavorável para recuperação”, afirma.
Quatro das cinco atividades de serviço pesquisadas pelo instituto caíram em julho. A exceção foi o serviço prestado às famílias, que avançou 3,1%.
“Não é um aumento desprezível, mas é muito pontual e ligado à queda de preços. As notícias boas para o setor param por aí”, diz Fabio Bentes, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).
Apenas o grupo de serviços de transportes recuou 4% em julho, a maior queda mensal entre as categorias.
“Esse recuou é preocupante, porque o transporte é um termômetro importante da atividade econômica”, diz Bentes.
Segundo o economista, o índice que mede o volume de serviços está cerca de 11% abaixo do registrado em janeiro de 2015, primeiro ano completo do país em recessão.
“Nos serviços, a recuperação não só vai ser lenta como nem sequer começou”, avalia.
O cenário político incerto turva previsões para o segundo semestre, mas o entendimento geral é que as engrenagens da economia devem continuar em ritmo lento até que um novo presidente seja eleito.
A queda de 1% no varejo na comparação entre julho de 2017 e o mesmo mês de 2018 interrompe uma sequência de 15 taxas positivas.
Para Isabela Tavares, especialista em comércio da consultoria Tendências, isso reflete as incertezas deste ano.
“É um sinal de desaceleração, por causa tanto da paralisação quanto das eleições, ambas afetando a confiança do consumidor. Nesse ambiente, as pessoas interromperam e postergaram as intenções de consumo, mantendo só o essencial”, afirma.
No comércio, o cenário afeta sobretudo os segmentos que dependem da concessão de crédito.
Embora a inflação brasileira permaneça em níveis baixos (o IPCA de agosto teve deflação de 0,09%), o que alivia o poder de compra das pessoas, o desemprego alto (taxa de 12,3% no trimestre encerrado em julho) retira a confiança do consumidor em tomar crédito.
Não à toa, em julho, o destaque negativo do varejo foram móveis e eletrodomésticos, cujas vendas caíram 4,8%.
Em serviços, a conjuntura política impacta investimentos, fator relevante em um setor em que parte significativa das negociações ocorre entre as próprias empresas.
“No caso de serviços, além da questão das famílias, o desempenho fraco da indústria em julho, que demanda menos serviços, ajuda a explicar a queda”, diz Sarah Bretones, economista da MCM Consultores.
Segundo o IBGE, a produção industrial recuou 0,2% em julho.
“A formação bruta de capital fixo [medida para os investimentos] está entre 15% e 16% da economia. Não tem como o país crescer de forma sustentável com um nível tão distante de ao menos 25%”, diz Bentes.
Segundo Bretones, as condições financeiras do país têm atrapalhado a recuperação da atividade econômica. “Há um risco de estagnação no restante deste ano”, afirma.
Embora o resultado do varejo em julho tenha surpreendido negativamente, a projeção para os próximos meses é que ocorra um crescimento gradual, afirma Tavares.
“A liberação do pagamento do PIS/Pasep nos meses de agosto e setembro, embora bem mais baixo que o do FGTS, deve impactar o consumo de alguma forma. Até o fim do ano, esperamos um crescimento moderado.”
Da FSP.