Lula vê estabilidade política como condição para crescimento
Foto: André Penner/AP
No lançamento da sua pré-candidatura à presidência- será a sexta vez que concorrerá ao cargo-, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou para um público que foi além da militância de esquerda, e dos partidos que devem apoiá-lo (PT, PSB, PC do B, PV, Psol, Rede e Solidariedade). A fala representou uma guinada em relação ao seus pronunciamentos das últimas semanas, voltados para sua base tradicional, que foram marcados por declarações polêmicas, como ataques à classe média e às elites, entre outros alvos.
Até então, seu único aceno ao centro havia sido a escolha de seu companheiro de chapa, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB). Lula manteve, porém, um vigoroso discurso pela manutenção de estatais e de bancos públicos.
“Queremos unir os democratas de todas as origens e matizes, das mais variadas trajetórias políticas, de todas as classes sociais e de todos os credos religiosos”, afirmou, neste sábado, no momento em que foi mais explícito ao falar para fora de sua bolha.
A promessa central de Lula é garantir estabilidade política, e deste modo. abrir espaço para crescimento econômico. ““É preciso dizer com toda clareza. Para sair da crise, crescer e se desenvolver, o Brasil precisa voltar a ser um país normal, no mais alto sentido da palavra. Não somos a terra do faroeste, onde cada um impõe a sua própria lei”.
A mensagem ao centro estava também no slogan do evento. “Vamos juntos pelo Brasil”. A coreografia do ato diminuiu a presença do vermelho e da estrela que eram a marca registrada do partido. Usou-se muito o verde e o amarelo. A presença de Alckmin na aliança foi valorizada. Seu nome constava nos paineis publicitários e ele foi o único orador além de Lula, em uma mensagem veiculada ao vivo por vídeo, já que ele está com covid-19.
Se no ato do PSB Lula e Alckmin reverenciaram o hino da Internacional Socialista, no ato petista cantou-se o hino nacional.
A evocação do passado era clara. Foi exibida uma regravação do jingle da campanha de 1989, o do “Lulalá, meu primeiro voto” e transmitido a versão da época da música da eleição de 2002, marcada pelo refrão “é só você querer, querer, que amanhã assim será”. Foi retransmitido até a música menos famosa da campanha de reeleição em 2006, o do “a voz de Deus é a voz do povo, olha aí o Lula de novo”.
“O novo hoje é o velho”, sintetizou o senador Humberto Costa (PT-PE), constatando a mensagem nostálgica da candidatura. Para o ex-governador do Maranhão Flávio Dino (PSB), pré-candidato ao Senado, a nova plástica da campanha foi uma das principais inovações do ato. “Este é o campo adequado. Você disputa também no terreno dos valores com o Bolsonaro”.
Conforme adiantou o Valor, o discurso de Lula mencionou a criação “de um ambiente fértil ao empreendedorismo, para que possam florescer o talento e a criatividade do povo brasileiro”.
Para Dino, a menção ao empreendedorismo e a ausência de temas como a revogação da reforma trabalhista indicam o que chamou de “modulação programática”.
“O outro campo precisa compreender a importância deste gesto”, comentou o ex-governador do Piauí e também candidato a senador, Wellington Dias (PI), O piauiense apontou que o apoio aos empreendedores é uma linha que na economia unificaria “os dois campos”, dos quais Lula e Alckmin seriam os representantes.
No discurso, Lula não citou em momento algum os militares, mas a eles fez várias alusões, das quais a mais representativa foi o momento em que ressaltou: “ é imperioso que cada um volte a tratar dos assuntos de sua competência”. Um sinal de que o petista se incomoda com o protagonismo das Forças Armadas na discussão do processo eleitoral.