Bolsonaro vai à ONU falar mal de Lula
Foto: JASON SZENES/EFE
No discurso que abre a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira, 20, o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez referências ao seu governo, introduzindo a fala com críticas ao PT. Bolsonaro também exaltou o agronegócio e tratou o País como referência de sustentabilidade e defesa do meio ambiente. O discurso lido do presidente durou 20 minutos e foi, em boa parte, voltado para o público interno, direcionado para as eleições, com acenos também para a comunidade internacional. Ele encerrou afirmando que o povo brasileiro acredita em “Deus, Pátria, família e liberdade”.
Sem citar nominalmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que lidera as pesquisas de intenção de voto -, o presidente falou das condenações do petista na Operação Lava Jato. “No meu governo, extirpamos a corrupção sistêmica que existia no País. Somente entre o período de 2003 e 2015, onde a esquerda presidiu o Brasil, o endividamento da Petrobras por má gestão, loteamento político em e desvios chegou a casa dos US$ 170 bilhões. O responsável por isso foi condenado em três instâncias por unanimidade”, afirmou o presidente no início de sua fala. Depois de passar um ano e sete meses na prisão após ser condenado a cumprir pena de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo do tríplex do Guarujá, Lula recuperou os direitos políticos e agora tenta voltar ao Palácio do Planalto.
Ao afirmar que o “nosso agronegócio é orgulho nacional”, Bolsonaro disse “que, também na área do desenvolvimento sustentável, o patrimônio de realizações do Brasil é fonte de credibilidade para a ação internacional”. “Em matéria demeio ambiente e desenvolvimento sustentável, o Brasil é parte da solução e referência para o mundo.
Segundo Bolsonaro, “2/3 de todo o território brasileiro permanecem com vegetação nativa, que se encontra exatamente como estava quando o Brasil foi descoberto, em 1500″.
No discurso, Bolsonaro falou da guerra da Ucrânia, afirmando que seu governo apoiou os “esforços para reduzir os impactos econômicos desta crise”. “Mas não acreditamos que o melhor caminho seja a adoção de sanções unilaterais e seletivas, contrárias ao Direito Internacional. Essas medidas têm prejudicado a retomada da economia e afetado direitos humanos de populações vulneráveis, inclusive em países da própria Europa.”
O foco interno da sua fala ficou nítido na parte final da fala. Bolsonaro disse que sua gestão combateu “a violência contra as mulheres com todo o rigor e citou a primeira-dama Michelle Bolsonaro, que, segundo ele, “trouxe novo significado ao trabalho de voluntariado desde 2019, com especial atenção aos portadores de deficiências e doenças raras”. “Trabalhamos no Brasil para que tenhamos mulheres fortes e independentes, para que possam chegar aonde elas quiserem”.
O presidente afirmou que tem “sido um defensor incondicional da liberdade de expressão”, e, em outra referência ao momento eleitoral, afirmou que, em seu governo, “o Brasil tem trabalhado para trazer o direito à liberdade de religião para o centro da agenda internacional de direitos humanos”. “É essencial garantir que todos tenham o direito de professar e praticar livremente sua orientação religiosa, sem discriminação. Quero aqui anunciar que o Brasil abre suas portas para acolher os padres e freiras católicos que têm sofrido cruel perseguição do regime ditatorial da Nicarágua. O Brasil repudia a perseguição religiosa em qualquer lugar do mundo”, disse.
Como mostrou o Estadão, a campanha de Bolsonaro adotou uma estratégia específica para o eleitorado católico, maior grupo religioso do País, e o presidente assumiu o discurso do medo para tentar reduzir a preferência do segmento por Lula. Bolsonaro tem dito que Lula vai perseguir católicos no Brasil, a exemplo dos expurgos promovidos pelo governo de esquerda de Daniel Ortega, na Nicarágua.
No discurso na ONU, o presidente brasileiro também citou como “outros valores fundamentais para a sociedade brasileira” a “defesa da família, do direito à vida desde a concepção, à legítima defesa e o repúdio à ideologia de gênero”.
Além de ressaltar a “defesa da família” e “o direito à vida”, Bolsonaro encerrou o discurso citando as manifestações do “7 de Setembro”, data marcada por atos eleitorais do presidente. “O Brasil completou 200 anos de história como nação independente. Milhões de brasileiros foram às ruas, convocados pelo seu presidente, trajando as cores da nossa bandeira. Foi a maior demonstração cívica da história do nosso país, um povo que acredita em Deus, Pátria, família e liberdade.”
Horas antes de o presidente discursar na manhã desta terça-feira, 20, críticas contra Bolsonaro foram projetadas na lateral da sede da ONU, em Nova York. A intervenção, que foi organizada pelo U.S. Network for Democracy in Brazil, chamou o presidente de “Brazilian shame” (vergonha brasileira, em tradução livre), além de “mentiroso” e “desgraça”.