Usar “Tabajara” como depreciativo insulta povo ancestral
Imagem: Paulo Roberto Netto/UOL
O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, qualificou a ofensiva de aliados do bolsonarismo de “Operação Tabajara”, um termo repetido por políticos e outros observadores.
Ele se referia ao suposto plano de gravá-lo, numa denúncia revelada pelo senador Marcos do Val (Podemos/ES). Mas, além de ser uma ofensa a um povo ancestral, dar essa conotação a um ensaio de golpe descaracteriza o risco que está envolvido.
Se o projeto específico citado pelo senador parece surreal e improvável, é necessário reconhecer que as democracias estão ameaçadas pela existência de um movimento extremamente profissional, sedutor, com muito dinheiro, plano e objetivo.
Ao longo dos últimos anos, a extrema direita descobriu como poucos o poder das redes sociais e criou uma verdadeira realidade paralela para levar milhões de pessoas a acreditar que movimentos autoritários podem dar a solução para seus desafios, que são reais.
Conforme o próprio ministro do STF admitiu, tal movimento criou “zumbis” que rezam para que extraterrestres ajudem a salvar seu mito, cantam o hino nacional para pneus, acreditam que a eleição foi roubada e até que Luiz Inácio Lula da Silva já morreu.
Mas, para isso, mergulharam em detalhados estudos sobre o impacto das redes sociais nas consciências, o poder da mentira como estratégia de poder, o uso dos votos e das estruturas da democracia para chegar ao poder. E, uma vez no poder, desmontar justamente essas estruturas.
A mobilização internacional em defesa da democracia brasileira não tem qualquer relação com a defesa de Lula. O que alemães, franceses ou americanos querem é salvar suas próprias democracias. Deixar o Brasil cair, portanto, representaria um fortalecimento da extrema direita mundial e, portanto, uma maior ameaça para seus próprios sistemas.
Chamar uma operação golpista de “Tabajara” não apenas é discriminatório contra um povo ancestral. Numa fala que poderia ser mais um meme, Moraes repete o erro dos últimos anos entre os democratas: rir do suposto amadorismo da extrema direita. A ameaça golpista da extrema direita mundial é tudo menos “Tabajara”.
UOL