Apoio de Tarcísio a chacina o reabilita com bolsonarismo
Foto: Marcelo S. Camargo/Governo de SP
A defesa enfática que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem feito da operação policial que já deixou ao menos 14 mortos no Guarujá, litoral paulista, o reaproximou do bolsonarismo, base que o ajudou a se eleger no ano passado e que vinha disparando fogo amigo nos últimos meses.
Além do apoio incondicional à Polícia Militar (PM), que reagiu ao assassinato de um soldado da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) na quinta-feira (27/7), Tarcísio escolheu palavras-chave do vocabulário bolsonarista para responder a questionamentos sobre possíveis excessos das forças de segurança.
Por mais de uma vez, o governador falou em “guerra” contra o tráfico de drogas na Baixada Santista para justificar os confrontos letais após a morte do PM da Rota, e disse que “não podemos sucumbir a narrativas” quando foi indagado sobre denúncias de abusos e tortura durante a operação policial no litoral.
“Essa guerra [com o narcotráfico] destrói a sociedade. Essa guerra não é só da polícia. Essa guerra não é só do governo do estado. Essa guerra é de todo mundo. Essa guerra é de todos”, disse Tarcísio nessa terça-feira (1º/8), após cobrar respeito à Polícia Militar.
Tarcísio já havia negado excessos da PM na ação e dito que “não existe combate ao crime sem efeito colateral”, em referência aos 14 mortos em supostos tiroteios com policiais. O governador enfatizou que o crime organizado anda fortemente armado e ressalvou que “ninguém quer o confronto”.
A palavra “narrativa” voltou a ser usada até mesmo na hora de prometer que eventuais abusos da polícia serão investigados e punidos. “Agora fica sempre essa narrativa de que há excesso, há excesso, há excesso. Se houver excesso, nós vamos investigar.”
O tom linha-dura adotado por Tarcísio agradou à base bolsonarista em São Paulo, que andava profundamente irritada com o governador, tanto pela falta de espaço no governo paulista quanto pelas decisões políticas dele.
O ápice da ira ocorreu no início de julho, quando Tarcísio foi hostilizado em uma reunião com integrantes do PL, na presença do ex-presidente Jair Bolsonaro, por defender a reforma tributária encampada pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Tarcísio e Bolsonaro selaram a paz publicamente em seguida, mas o governador continuou sendo alvo de críticas dentro do bolsonarismo, como de deputados da sua base em São Paulo, que se queixam que ele tem sido mais kassabista – em alusão ao secretário de Governo, Gilberto Kassab – do que bolsonarista à frente do governo do estado.
As manifestações de Tarcísio sobre a Operação Escudo, deflagrada para capturar os envolvidos no assassinato do PM da Rota, alimentaram a polarização política que tanto nutre o bolsonarismo e o petismo.
Logo após o governador fazer a primeira fala pública elogiando a operação na segunda-feira (31/7), quando ainda havia oito mortos, dois ministros do governo Lula – Silvio Almeida (Direitos Humanos) e Flávio Dino (Justiça) – disseram que a ação da PM não parecia proporcional em relação ao crime cometido pelos bandidos.
Nas redes sociais, as falas foram exploradas como se os bolsonaristas estivessem do lado do bem, defendendo a polícia, e os petistas, do lado do mal, defendendo a criminalidade. O contrário também ocorreu.
Além da pressão que existia dentro do bolsonarismo e das próprias forças de segurança desde a morte do soldado da Rota, Tarcísio decidiu subir o tom em seu discurso, segundo o Metrópoles apurou, após receber a garantia do secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, de que os oito suspeitos mortos até aquele momento já tinham passagem pela polícia.