Rota aumenta mortes mesmo com câmeras
Os policiais militares da Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota) começaram a usar câmeras corporais nas fardas em junho de 2021, medida contestada por deputados da chamada bancada da bala e ex-integrantes da tropa em São Paulo, mas vista por especialistas em segurança pública como fundamental para ajudar a combater execuções e arbitrariedades.
No período pré-pandemia, no primeiro semestre de 2019, ainda sem câmeras, o Comando de Policiamento de Choque (CPChoq), do qual a Rota é o braço mais letal — e praticamente o único de seus quatro batalhões a entrar em supostos confrontos regularmente —, matou 67 pessoas em serviço. No mesmo período de 2023, já com as câmeras no uniforme, foram 23 mortos —queda de 65,7%.
O uso ou não de câmeras, entretanto, parece não ser o suficiente para determinar, por si só, a redução na letalidade, apesar de fator relevante. O início deste ano tem sido um exemplo dessa constatação.
No primeiro semestre de 2022, ainda durante a gestão João Doria/Rodrigo Garcia (PSDB), foram 11 mortos. Já nos primeiros seis meses do governo estadual sob o comando do bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), com 23, o comando de policiamento do qual a Rota faz parte viu mais que dobrar o número de mortos em supostos confrontos (109% a mais).
Ainda não constam das estatísticas as ocorrências registradas entre o fim de julho e agora, na Operação Escudo, deflagrada após o assassinato do soldado Patrick Bastos Reis e que já conta com 16 mortes.
Controle
Especialista em segurança pública, o professor Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, diz que São Paulo evoluiu no controle da letalidade em comparação com o Rio de Janeiro, por exemplo, ao adotar as câmeras corporais.
Segundo Cano, as polícias militares são também muito sensíveis aos comandos políticos. “Se o comando diz que é para matar, eles matam mais. Por trás disso está o apoio de uma parte significativa da população. É um problema estrutural, além das questões técnicas”, diz.
Metrópoles