Bolsonaristas não perdoam Tarcísio
Foto: Brenno Carvalho e Reprodução
Oito meses após assumir o governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) enfrenta desconfiança de sua base mais à direita na Assembleia Legislativa (Alesp). Com a volta dos trabalhos na casa, o governador escalou seu assessor especial Diego Torres, irmão da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, para abordar bolsonaristas do PL e tentar pacificar a relação com aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.
No primeiro semestre, Tarcísio colecionou episódios de desgaste com bolsonaristas. Ele foi atacado, por exemplo, após se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília. Também sofreu críticas ao autorizar a feira do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Parque da Água Branca e ao liberar verba para a Parada LGBTQIA+, entre outros episódios
Por fim, foi desautorizado por Bolsonaro quando defendeu a Reforma Tributária na Câmara. O gesto foi lido pelos bolsonaristas na Alesp como sinal verde para dificultar a vida do governador em plenário — e sinal amarelo para o próprio Palácio dos Bandeirantes, que abriu canal de diálogo com os deputados para sanar a crise.
Diego Torres tem marcado presença algumas vezes por semana na Alesp para ouvir demandas dos parlamentares, como indicações de cargos no terceiro escalão, marcar agendas com secretários e liberação de emendas. Cunhado de Bolsonaro, ele mantém prestígio entre bolsonaristas mais leais ao ex-presidente. Procurado, Torres não quis falar sobre seu trabalho na articulação do governo paulista.
Na última segunda-feira, Tarcísio convidou a bancada do PL para uma reunião no Palácio dos Bandeirantes a fim de estreitar laços. Torres era o único não parlamentar na reunião, e foi tratado como “ponto de contato” entre o chefe do Executivo e a base legislativa.
A avaliação dos bolsonaristas é que Torres tem credibilidade para tratar de alguns assuntos ligados à pauta ideológica. Pela proximidade familiar com o ex-presidente, o assessor é visto como alguém “imune à difamação”, e que dificilmente sofreria alguma tentativa de “trapaça”, afirma um deputado ouvido em anonimato.
Os deputados ouviram de Tarcísio a promessa de liberação de R$ 10 milhões em emendas para cada um até o fim do ano, dos quais metade viriam neste mês. O governo não teve problema para aprovar propostas na Alesp no primeiro semestre, quando teve apoio da oposição em nove dos dez projetos de lei enviados, mas a situação deve mudar no restante do ano. Isso porque o governo vai depender de mais votos se quiser passar propostas de emendas constitucionais — para as quais não deve ter apoio da esquerda, então terá de garantir apoio leal da base.
O convite para a reunião, no entanto, veio tarde, segundo alguns deputados. Isso porque Tarcísio escolheu se encontrar antes com a bancada do PSDB — o que foi lido por bolsonaristas como sinal de desprestígio. Há nomes no PL que nutrem grande aversão aos tucanos, como é o caso da deputada Dani Alonso, cujo pai, Daniel Alonso, é prefeito de Marília, e rivaliza com o colega Vinícius Camarinha (PSDB), que já comandou a cidade.
Com a relação degradada, Tarcísio virou alvo de piada no grupo de WhatsApp dos deputados do PL após convocar a bancada para a reunião. O deputado Gil Diniz, principal aliado de Bolsonaro no Legislativo paulista, escreveu que não poderia ir ao encontro do governador pois “teria de levar a avó no jiu-jítsu”.
A relação de Tarcísio e o bolsonarismo passa pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, um dos fiadores da governabilidade na Alesp. O presidente da Casa, André do Prado (PL), foi eleito com sua bênção, e sua articulação nos bastidores tem irritado apoiadores do ex-presidente.
Valdemar reuniu a bancada do PL nesta semana para pedir apoio à sua indicação à vaga aberta no Tribunal de Contas do Estado (TCE), o deputado federal Marco Bertaiolli (PSD), segundo relatam participantes. O deputado estadual Ricardo Madalena, que também pleiteia a vaga, retirou-se da sala em protesto.
O clima esquentou quando os deputados Lucas Bove, Major Mecca e Conte Lopes atacaram o apoio dado pelos dirigentes do PL ao projeto de reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). A ala defende que a legenda, hoje a maior bancada federal e dona do maior fundo partidário, tenha candidatura própria — visto que Nunes tem baixa identificação com a direita bolsonarista. Os deputados também reclamam de não terem sido convidados para um evento em Jundiaí para a filiar o prefeito da cidade, Luiz Fernando Machado (PL).