Assim como Bolsonaro, Macri também vê familiares envolvidos em escândalo
Numa decisão que surpreendeu a Casa Rosada e poderia atrapalhar o projeto de reeleição do presidente Mauricio Macri em 2019, o juiz federal argentino Claudio Bonadio intimou um irmão e o pai do chefe de Estado, a prestar depoimento no chamado caso “dos cadernos dos subornos”, no qual já foram presos vários empresários e dirigentes políticos acusados de terem pago propinas a funcionários dos governos kirchneristas, entre 2003 e 2015.
Franco (o pai) e Gianfranco (o irmão) Macri deveriam apresentar-se nesta quinta-feira nos tribunais portenhos. Bonadio, o mesmo juiz que já processou e até mesmo ordenou a prisão da senadora e ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), decidiu convocá-los quando o ex-diretor do organismo que controla as concessões viárias do país, Claudio Uberti, atualmente preso, revelou que recebeu subornos de várias empresas do setor.
Até pouco tempo atrás, a família Macri controlava a Autopistas del Sol, que detém a concessão de estradas, sobretudo na província de Buenos Aires. No período em que Uberti disse ter recebido os subornos, a família do presidente estava à frente da empresa.
Por alguma razão ainda desconhecida, Bonadio não mencionou o chefe de Estado em sua resolução. Muitas companhias de Franco Macri foram cedidas a seus cinco filhos, com usufruto do pai. O grupo Macri-Socma tem várias companhias, que nos últimos 50 anos realizaram diversos negócios com o Estado. No caso da Autopistas del Sol, confirmou o jornal La Nación, o presidente cedeu sua participação a seus filhos.
— São decisões da Justiça — limitou-se a responder a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, uma das poucas funcionárias que comentou a situação da família presidencial.
A família Macri informou ao juiz Bonadio que Franco, de 88 anos, não está em condições físicas e mentais de prestar depoimento. A saúde do patriarca dos Macri deteriorou-se muito nos últimos anos e atualmente ele vive praticamente isolado em seu apartamento de Buenos Aires. Em princípio, Gianfranco irá aos tribunais nesta quinta, esclarecer a situação da empresa que ele controlava na época em que, segundo Uberti, eram pagados subornos ao governo Kirchner.
O escândalo dos cadernos complicou seriamente a situação judicial de ex-funcionários kirchneristas, entre eles o ex-ministro do Planejamento Julio De Vido, preso desde 2017, e poderia virar uma dor de cabeça para Cristina, mencionada em vários depoimentos e atualmente protegida pela imunidade parlamentar.
O surpreendente é que agora o próprio presidente Macri foi respingado por um caso que atingiu os empresários mais importantes da Argentina, alguns dos quais estão cumprindo prisão preventiva. Outros, pelo menos 15, decidiram colaborar com a Justiça como arrependidos.
Portanto, o caso afeta um presidente que pretende reeleger-se e uma senadora que, embora não o tenha anunciado oficialmente, atua demonstrando toda a intenção de tentar recuperar o poder. “Quem poderia ser favorecido é o terceiro em discórdia no cenário eleitoral de 2019: o peronismo racional. Se conseguir tornar-se o principal adversário nas presidenciais poderia impor uma batalha mais difícil a Macri”, escreveu o jornalista Hernán Cappiello, do La Nación.
Do O Globo