Aécio quer que PSDB tome mais ‘veneno’ antipetista

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Alvejado pela Lava Jato e por denúncias de corrupção no caso JBS, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) ressurgiu na cena politica com uma barba grisalha e forte discurso contra o governo Lula depois da sentença judicial que o absolveu das acusações. Em seu gabinete da Câmara, onde desponta uma imagem de São Francisco de Assis na parede, Aécio disse que o PSDB, apesar de “destroçado” e “menorzinho”, precisa se apresentar desde já como alternativa de poder para as próximas eleições.

“Temos de endurecer o discurso oposicionista. Não dá para ficar nesse nem-nem, que ninguém sabe o que é”, afirmou Aécio ao Estadão, numa referência à retórica daqueles que não querem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e muito menos seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).

Em meados deste mês de setembro, o partido que já foi um dos maiores do País e hoje amarga a falência política vai criar um núcleo de avaliação e acompanhamento dos programas lançados no terceiro mandato de Lula. “Tentaram nos matar, mas não conseguiram. Estamos vivos”, avisou o deputado. “Fui abatido por essas denúncias e hoje me sinto mais leve (…). Não me curvei.”

Aécio era senador e presidente do PSDB quando, em 2017, foi acusado de pedir propina de R$ 2 milhões a Joesley Batista, um dos donos da JBS, em troca de favores no Congresso. Em julho, porém, o Tribunal Regional da 3.ª Região (TRF-3) manteve sua absolvição por unanimidade.

“Talvez, se o PSDB tivesse na época um porcentual da coragem que tem o PT de defender os seus, as coisas seriam diferentes”, disse Aécio. “Mas eu não olho para trás.”

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O sr. foi presidente da Câmara, governador de Minas, senador e candidato ao Palácio do Planalto, em 2014. Tinha uma carreira em ascensão. Como se sentiu sendo acusado de corrupto?

Foi muito dolorido na vida política e pessoal. Depois de vários episódios veio Bolsonaro, com o atraso que significou para o Brasil, e agora o retorno do PT. 2014 foi um momento de inflexão. O resultado daquela eleição mudou a história do Brasil, que de virtuosa passou a ser dramática. Eu não me curvei. Sempre acreditei que o tempo resolveria isso. Fui abatido por essas denúncias infames e hoje me sinto mais leve para ajudar o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que é nossa potencial alternativa presidencial em 2026, a dizer para o Brasil que existe possibilidade de termos um projeto diferente desses dois que estão colocados hoje. Eu não me curvei.

O sr. não faz uma autocrítica?
Eu faço uma autocrítica com todo aquele episódio que me marcou muito. Na conversa que eu tive com aquele cidadão (Joesley Batista), eu estava sentado na cabeceira da minha cama e usei termos dos quais me arrependo. Quando eu ouço, nem me identifico com eles. Mas em momento algum ali houve qualquer ilegalidade. Eu me arrependo mais ainda de não ter feito mais esforço para ganhar as eleições de 2014 porque eu teria mudado a história do Brasil.

O ex-chanceler Aloysio Nunes foi vice na sua chapa, em 2014, e hoje faz severas críticas ao rumo tomado pelo PSDB. Ele disse ao
Estadão
que o PSDB não serve mais para nada, nem para oposição. O sr. concorda?
Ele devia estar meio mal-humorado nesse dia (risos). Eu concordo com quase tudo o que diz o Aloysio, um dos meus amigos mais fraternos, e ele tem todo o direito de extravasar suas opiniões. O PSDB foi destroçado. O ‘seu’ João Doria (ex-governador de São Paulo) foi um tsunami na vida do PSDB. Nós, hoje, estamos vivendo as consequências daquilo. Doria até pode, na sua ingenuidade política, ter achado que seria candidato à Presidência, mas nunca seria. Ele estava, na verdade, impedindo que o PSDB tivesse uma candidatura.

Por que?
Por uma razão simples: a candidatura presidencial dele inviabilizaria a do vice-governador Rodrigo Garcia em São Paulo. O desgaste do Doria era tão grande que puxaria o Rodrigo para o fundo do poço. No momento em que ele desistiu de ser candidato à Presidência e resolveu ficar no governo para concorrer à reeleição, foi ameaçado até de impeachment por seus companheiros. E qual a consequência disso? O PSDB deixou de ser uma alternativa. Acabamos apoiando a Simone (Tebet, hoje ministra do Planejamento). É uma figura séria, minha amiga, mas qual foi o passo seguinte do MDB? Ir para o governo do PT.

Estadão