PSDB acelera na rota suicida
Foto: Grégori Bertó/Secom
A decisão judicial que obriga o PSDB a realizar uma nova eleição à presidência da legenda ocorre no momento em que o atual comandante da sigla, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, enfrenta críticas internas, convive com uma debandada de correligionários e já vê nomes sendo cotados para substituí-lo. Nos bastidores, o deputado federal Aécio Neves (MG), autodeclarado apoiador de Leite, começa a ganhar força, caso decida disputar a cadeira, que ele próprio já ocupou.
Apesar das insatisfações internas, Leite não abandonou os planos de concorrer ao Palácio do Planalto e trabalha para se cacifar até 2026. Mas correligionários, em especial os do Congresso, reclamam da falta de protagonismo tanto do governador quanto da legenda no cenário nacional. Acusam Leite de poupar ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva porque, como governador, precisa manter uma boa relação com o Planalto para não deixar de receber recursos do governo federal.
— O PSDB historicamente faz oposição aos governos do PT. Entendo que a bancada do partido foi eleita para fazer isso e que devemos seguir essa vocação — defende o deputado federal Carlos Sampaio (SP), um dos tucanos mais incisivos nas críticas à gestão de Lula.
Nesse cenário, o deputado e ex-presidente do PSDB Aécio Neves ganha força. Absolvido de acusação por corrupção passiva, ele se viu reabilitado politicamente num seminário que apresentou as novas diretrizes da sigla no mês passado. O mineiro adota um discurso público em defesa de Leite. Mas aliados da bancada federal, onde o tucano exerce influência, já aventam a possibilidade de ele suceder Leite. Aécio tem sido uma das vozes ativas do PSDB contra o PT, o que agrada boa parte dos parlamentares. Em entrevista recente, o mineiro criticou o Planalto e defendeu que é hora de “radicalizar o centro”.
Aliados do governador gaúcho, porém, garantem que ele tentará se manter na presidência, mesmo sob pressão.
A disputa judicial acerca do comando do PSDB pode ameaçar o planejamento para as eleições municipais, num momento em que o partido enfrenta baixas de prefeitos em São Paulo, estado em que os tucanos sempre foram fortes. Nomes como Luiz Fernando Machado, prefeito de Jundiaí, e Rubens Furlan, prefeito de Baruerí, deixaram a sigla. Agora, a cúpula tucana vê o PSD flertar com a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra.
No último fim de semana, o ex-deputado Roberto Freire foi destituído da presidência do Cidadania, que forma uma federação partidária com o PSDB. Interlocutores tucanos relataram a preocupação de que mais um impasse na federação pode espantar potenciais candidatos para as eleições do ano que vem.
A ação que culminou na decisão judicial desfavorável a Leite partiu do prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, e tem como pano de fundo a rivalidade de Morando com o prefeito de Santo André, Paulo Serra. Morando é ligado ao ex-governador João Doria, enquanto Serra se tornou o principal aliado de Leite em São Paulo e, com isso, virou presidente da federação PSDB-Cidadania e tesoureiro nacional do partido.
Além da disputa política entre os prefeitos paulistas, Eduardo Leite enfrenta ainda descontentamento entre deputados estaduais e integrantes dos diretórios municipal e estadual de São Paulo. Reservadamente, tucanos acusam a atual Executiva de ameaçar interferir nos núcleos regionais e expulsar dirigentes.
Um dos que se manifestaram a favor da decisão judicial foi o deputado Carlão Pignatari, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo. Ele disse que a sentença “reforça o compromisso com a legalidade, transparência e democracia”. A publicação foi curtida por Fernando Alfredo, presidente municipal do PSDB.
O PSDB informou ontem que recorrerá da decisão. O senador Izalci Lucas (DF) disse que a sentença “não afeta” o partido, já que o mesmo está sob processo eleitoral. Até agora, foram feitas as convenções zonais e a maior parte das municipais. Em outubro, ocorrem as convenções estaduais, e a nacional, entre 18 e 30 de novembro.