Por que Bolsonaro ficou deprimido após eleição
Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
O tenente-coronel do Exército Mauro Cid relatou em março, antes de ser preso, que generais do Exército alertaram o então presidente Jair Bolsonaro (PL) de que qualquer tentativa fora da Constituição – “como decreto para prender Alexandre de Moraes”, por exemplo, seria “golpe militar”’.
Cid disse a um interlocutor que “um monte de maluco’” procurava Bolsonaro – derrotado nas eleições por Lula (PT) – querendo que o presidente tentasse um golpe para permanecer no cargo.
Entre as propostas que chegavam a Bolsonaro, estavam usar uma interpretação equivocada do Artigo 142 das Constituição para permitir que as Forças Armadas tomassem o poder, prender Moraes, convocar novas eleições e ordenar o uso do voto impresso.
Segundo o tenente-coronel, nessas ocasiões, Bolsonaro “só ouvia”, e recebia de generais do Exército orientações para não embarcar em iniciativas do tipo.
“Os próprios generais falavam: ‘presidente, isso aqui é golpe militar. Se a gente fizer qualquer coisa, é golpe militar'”, relatou Cid.
Esses generais, segundo Cid, diziam ao presidente que se, por exemplo, Bolsonaro emitisse um decreto para prender Moraes, “o STF vai dar uma ordem anulando o decreto do senhor e mandando prender o senhor, e o Congresso duas semanas depois vai aprovar uma PEC emergencial tirando o 142 da Constituição, e aí, qual o papel que a gente vai cumprir? Quem tiver força. Então, é golpe militar.”
Segundo o blog apurou, essa recusa do Exército em embarcar numa tentativa de golpe deprimiu Bolsonaro. O então presidente esperava ter um apoio maior na Força do que ele efetivamente tinha. Mas, como seu próprio braço-direito disse ao interlocutor em março, “o Exército é uma instituição de estado, ele não é de governo.”
Cid fechou um acordo de delação premiada, já homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Como o blog revelou em agosto, o ex-braço-direito de Bolsonaro vai arrastar militares que trabalhavam no governo Bolsonaro para o roteiro do golpe.
Nesta quinta (21), os jornalistas Bela Megale, no jornal O Globo, e Aguirre Talento, no UOL, revelaram que, na delação, Cid relatou à Polícia Federal que presenciou reuniões em que Bolsonaro e militares trataram de uma “minuta de golpe”, detalhada, que previa ilegalidades como afastamento de autoridades.
Após essa revelação, o ministro da Defesa, José Mucio, decidiu fazer uma reunião com o comando das Forças Armadas para esta quinta.