Pré-Carnaval começou com gritos contra Bolsonaro

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Um dos maiores blocos carnavalescos da cidade, o Acadêmicos do Baixo Augusta iniciou seu desfile às 16h15 deste domingo (24) de pré-Carnaval. As duas vias da Consolação foram fechadas para o cortejo da agremiação, que reuniu uma multidão de foliões para acompanhar os três trios do grupo.

No ano passado, o bloco levou um milhão de pessoas para a Consolação, segundo balanço de seus organizadores. Em 2019, ainda sem uma estimativa até o momento, uma multidão de proporção similar se espremeu para extravasar ao som de Wilson Simoninha, Maria Rita e Mariana Aydar.

Conhecido por desfiles com pegada política, o bloco inspirou-se na música do grupo de rock brasiliense Legião Urbana para escolher o tema do desfile de 2019 –”Que País é Esse?”. Dessa forma, no evento que marcou os 10 anos de existência do bloco, seus integrantes quiseram marcar posição contra o autoritarismo que, segundo analisam, tem sido estimulado recentemente no Brasil.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) foi o principal alvo. A multidão entoou “ei, Bolsonaro, vai tomar no …” e recebeu acompanhamento da bateria. Aydar e Simoninha puxaram gritos de “ele não” e “ele nunca”.

As fantasias dos presentes também assumiram o discurso político. A publicitária Maria Sgarbi, 24, foi com um collant rosa em que se lia “pink money”.

“É o dinheiro do público LGBT, que bomba artistas como Anitta, Valesca Popozuda, entre outros, e também pode deixá-los a partir do momento que essas causas sejam desrespeitadas”, explica.

O que mais se viu, em termos de fantasias, foram homens vestidos de rosa e mulheres, de azul, em referência à fala da ministra Damares Alves, da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, de que cada gênero deve usar uma cor específica de roupas.

Rainha do bloco há sete anos, Alessandra Negrini, 48, sempre gera expectativa em torno dos trajes que usa nos desfiles. Em 2016, por exemplo, ela foi vestida de noiva, em protesto contra projeto de lei que queria definir como família apenas a união entre homem e mulher.

Desta vez, em consonância com os elogios à diversidade sexual que marcaram o desfile, foi com um moicano com as cores do arco-íris. Ela também vestiu roupas pretas com adereços de metal e longa bota, em um visual definido por ela como “punk rock”.

Simpática, acenou e sorriu para o público todo o tempo, acompanhando os músicos com coreografias.

Um dos fundadores do grupo foi o empresário e produtor cultural Alê Youssef, que assumiu o cargo de secretário da Cultura de São Paulo em meados de fevereiro, no lugar de André Sturm. O bloco teve papel fundamental na retomada do Carnaval de rua da cidade, participando ativamente desde 2009.

A setlist do bloco foi cheia de subtexto político, especialmente com exaltação à diversidade.

Passando por samba, frevo, axé e rock, cantaram a esperança de novos tempos com Cartola (“Juízo Final”), falaram da força feminina (“Frevo Mulher”), fizeram o elogio à diferença  (“Bichos Escrotos”, dos Titãs) e ironizaram os machões (“Cara Valente”).

Por volta das 18h, quando o bloco encontrava-se em frente ao cemitério da Consolação, começou a chover. Alguns dos presentes começaram a deixar o local para escaparem dela, que não durou mais que 15 minutos.

O prefeito Bruno Covas (PSDB) havia programado passar no bloco, mas desistiu devido a atraso em sua agenda. Ele, então, visitou as sedes das escolas de samba paulistanas.

Fechando a noite, a cantora paraense Fafá de Belém assumiu o microfone pouco depois das 20h. Ela cantou seu sucesso “Vermelho”, o hino nacional e repetiu algumas vezes o bordão antiassédio “Não é não”.

Da FSP