Brasileiros sofrem ataques em Universidade de Lisboa
Estudantes brasileiros da Universidade de Lisboa, em Portugal, se depararam com uma instalação ameaçadora nesta segunda-feira. No corredor da maior faculdade de Direito do país, o conteúdo de uma caixa, identificada como “loja de souvenirs”, era anunciado como gratuito caso a finalidade fosse atirá-lo em ‘zucas’, apelido pejorativo para brasileiros. Dentro dela, havia pedras.
— Alguns brasileiros foram perguntar do que se tratava aquilo e os portugueses disseram que era uma “brincadeira”. Os brasileiros disseram que era um absurdo, xenofobia, que iriam denunciar. E os portugueses fizeram pouco caso, dizendo que não daria em nada — contou a mestranda Maria Eduarda Calado, de 24 anos.
A suposta explicação para a agressão sugerida vem entre parênteses: os “zucas” teriam “passado à frente no mestrado”. Outra placa diz “não alimentem os pombos” e outra, ao fundo, pede “contribuições para alimentar nossos animais”.
De acordo com Maria Eduarda, um professor explicou aos brasileiros que os autores da instalação “são um grupo que não tem apoio da faculdade em nada por conta de suas ideias de ir contra tudo e todos”. E que, no ano passado, a seleção de mestrado foi aberta antes dos alunos de licenciatura da Universidade de Lisboa concluírem a graduação, o que fez com que a maioria dos inscritos fosse brasileira. Por esse motivo, esses portugueses se sentem injustiçados no processo seletivo.
— Todo ano, nós somos muitos. O meu curso é em direito comercial internacional e não tem um português na turma, por exemplo — contou.
Em nota, a Faculdade de Direito explicou que se aproxima a data das eleições para a associação acadêmica, órgão que representa os discentes perante a administração.
— Mesmo em campanha eleitoral, não serão toleradas quaisquer ações ofensivas relativamente a alunos da faculdade — diz o texto, que não sugere qualquer punição aos autores dos ataques.
A resposta não satisfez os alunos, que organizaram um protesto em frente à universidade. Nas placas, escreveram “queremos respeito” e “xenofobia é crime”.
— Eu, sinceramente, achei [a nota] fraca. Acho que é o tipo de coisa que deve cortar pela raiz e servir de exemplo. A gente está vivendo em um tempo com muito ódio, no qual as pessoas estão achando que é normal fazer coisas como essas. Acho que devia haver um pulso mais firme. Pela nota, entende-se que é um grupo concorrendo à eleição. O mínimo que devia acontecer era a eliminação deles do processo — avaliou Maria Eduarda.
Já a reitoria da Universidade de Lisboa foi mais incisiva. Ao GLOBO, a assessoria de imprensa do órgão informou que “o reitor da Universidade de Lisboa, António Cruz Serra, está indignado e vai abrir um processo disciplinar aos autores da ‘brincadeira'”.
De OGlobo