Processo eleitoral de 2010 pode ter agravado homofobia no país
O problema aumenta como praga. Segundo levantamento da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), o número de agressões homofóbicas (com ou sem violência física) neste ano já é maior do que o apurado no ano passado inteiro.
São Paulo é o Estado que tem mais casos de ataques com violência física ou meramente discriminatórios (18,41%). A capital paulista é a cidade com mais ataques e a maioria aconteceu na região central. A avenida Paulista foi a via pública campeã de ataques.
Estranhamente, justo no momento em que o Supremo Tribunal Federal reconheceu o direito dos homossexuais à união civil o país vê a intolerância sexual crescer nessa proporção, atingindo o ponto mais alto até hoje.
Na última madrugada de sábado para domingo, mais um caso de violência na avenida Paulista. Dois gays foram agredidos e um deles teve a perna quebrada. Segundo as vítimas, as agressões foram praticadas por dois homens que não aparentavam pertencer a nenhum grupo radical.
O que aconteceu no Brasil, do ano passado para cá, que desencadeou essa onda de homofobia? Dizem que foi a decisão do STF autorizando a união civil entre “homoafetivos”, mas a hipótese não se sustenta porque os ataques começaram a aumentar bem antes.
Este blogueiro tem uma teoria: a intolerância, o fundamentalismo religioso, a discriminação generalizada contra negros, nordestinos e gays foi reforçada por uma campanha eleitoral em que o candidato José Serra apelou ao que há de mais reacionário na sociedade para tentar se eleger.
Os ataques a homossexuais começaram a aumentar naquele momento. Líderes religiosos fundamentalistas como Silas Malafaia pregavam voto no tucano acusando sua adversária de ser “a favor do homossexualismo” e do aborto, atribuindo até homossexualidade a ela.
Na noite em que se confirmou a vitória de Dilma, a insuflação do ódio se materializou no Twitter. Uma jovem do interior de São Paulo (de onde mais?) pregou a morte por afogamento de nordestinos que votaram na petista, atraindo dezenas de “simpatizantes”.
Em 1º de janeiro, na mesma rede social, uma nova onda de intolerância criminosa. Hordas de jovens de classe média do Sul e do Sudeste pregaram o assassinato da presidente que então assumia o cargo.
Ao longo deste ano, mais estímulo à intolerância partiu da política. O deputado fluminense Jair Bolsonaro passou a estimular até violência de pais contra filhos “gayzinhos” e a pregar discriminação racial publicamente, na televisão, sem qualquer conseqüência.
A conclusão inescapável, portanto, é a de que o crescimento da intolerância com a diferença tem se originado da classe política. Enquanto políticos puderem liderar ondas de intolerância impunemente, o problema só irá se agravar.