Trump ordena ataques aéreos contra Irã, mas volta atrás, diz NYT
O presidente Donald Trump disse nesta sexta (21) que havia aprovado ataques contra o Irã, mas voltou atrás e cancelou a operação. A atitude foi tomada após o Irã ter derrubado um drone americano.
O grande ponto da discórdia é o local onde o drone foi abatido. O Irã diz que a aeronave sobrevoava a província de Hormozgan, às margens do Golfo de Omã, mas os EUA afirmam que o veículo estava sobre o estreito de Hormuz, em águas internacionais
O Irã disse nesta sexta (21) aos Estados Unidos por meio do embaixador suíço que Washington será responsável pelas consequências de qualquer ação militar contra o país, informou a agência de notícias Fars.
Como Washington e Teerã não têm laços diplomáticos formais, o embaixador da Suíça em Teerã representa os interesses americanos na República Islâmica.
O jornal The New York Times havia noticiado que, por volta de 19h de quinta oficiais militares e diplomatas estavam esperando um ataque, após intensas discussões na Casa Branca com agentes de segurança do governo.
A operação começou a ser colocada em prática: aviões estavam no ar e navios, posicionados, mas nenhum foguete chegou a ser disparado. Os ataques iniciais teriam como alvo radares e baterias de mísseis no Irã.
Na sexta, oficiais iranianos disseram à agência de notícias Reuters que Teerã tinha recebido uma mensagem de Donald Trump afirmando que um ataque era iminente, mas que ele era contra a guerra e queria dialogar sobre uma série de questões.
Trump teria dado um curto período de tempo para o Irã responder, e o país do Oriente Médio afirmou que a decisão de entrar ou não em guerra seria do líder do país, Ali Khamenei.
A queda do drone tensionou ainda mais as relações entre os países, que andam complicadas desde que os EUA e a Arábia Saudita acusaram o Irã de ter causado explosões em dois navios petroleiros no estreito de Hormuz na semana passada —pelo canal passam cerca de 20% da produção de petróleo mundial.
A Agência de Notícias da República Islâmica (IRNA) informou que o Ministério das Relações Exteriores do Irã, que convocou o embaixador suíço em Teerã, disse ao enviado que o país não estava em guerra com os Estados Unidos.
“Se o lado diante de nós tomar ações provocativas e impensadas, eles receberão uma resposta recíproca cujas consequências são imprevisíveis, e as perdas e os danos serão para os dois lados”, disse Mohsen Baharvand, diretor do departamento do Ministério das Relações Exteriores iraniano para as Américas.
Já o enviado dos Estados Unidos ao Irã, Brian Hook, afirmou em entrevista para a imprensa em Riad, Arábia Saudita, que é “importante fazer tudo” o que está ao alcance para aliviar as tensões. “Nossa diplomacia não dá ao Irã o direito de responder com força militar, o Irã precisa cumprir nossa diplomacia com diplomacia e não força militar”, disse ele.
Uma porta-voz da primeira-ministra britânica, Theresa May, afirmou que o Reino Unido está em contato direto com os EUA sobre a situação e disse que uma escalada de conflitos não seria do interesse de nenhum dos países.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que é preciso “nervos de aço” para lidar com a situação.
O Irã disse ainda nesta sexta que evitou de derrubar um avião americano com 35 pessoas a bordo que acompanhava o drone. Amirali Hajizadeh, chefe da divisão aeroespacial da Guarda Revolucionária, afirmou para a agência de notícias iraniana Tasnim: “Este avião também entrou no nosso espaço aéreo e poderíamos tê-lo derrubado, mas não o fizemos.”
Após o ocorrido, a Agência de Aviação Americana (FAA) proibiu que companhias aéreas sobrevoem o espaço aéreo controlado pelo Irã na região do estreito de Hormuz e do Golfo de Omã.
Adicionalmente, empresas de aviação internacionais —a holandesa KLM, a britânica British Airwais, a francesa Air France, entre outras— também anunciaram que evitarão a região, parcial ou totalmente.
Os EUA publicaram uma foto que mostraria um rastro de fumaça de partes do drone após a explosão.
O Irã publicou imagens, em seu canal de televisão oficial, do que seriam partes da aeronave.
Com a possibilidade de guerra, o episódio fez o preço do barril de petróleo aumentar US$ 1 na sexta, para cerca de US$ 65,50, em função de possíveis problemas na exportação da commodity produzida por países do Oriente Médio e escoada pelo estreito de Hormuz.
Um dos grandes pontos da disputa é o local onde o drone foi derrubado. Segundo comunicado da Guarda Revolucionária do Irã, a aeronave de modelo Global Hawk foi abatida sobre a província de Hormozgan, às margens do Golfo de Omã, “após violar o espaço aéreo iraniano”.
Washington nega que tenha violado o espaço aéreo do país —o drone teria ficado a uma distância de 33 km da costa iraniana. “Trata-se de um ataque injustificado a um aparelho de vigilância americano no espaço aéreo internacional”, afirmou Bill Urban, porta-voz da Marinha no Pentágono. O país também disse que o modelo era um MQ-4C Triton.
Donald Trump reagiu e escreveu em uma rede social que o Irã “cometeu um erro muito grande”. Mais tarde, afirmou que “um general ou alguém estúpido” pode ter cometido um equívoco ao derrubar o drone.
A situação entre os dois países vem se agravando desde o ano passado. Em maio, Trump decidiu retirar os EUA de um acordo nuclear assinado com o Irã e outras potências em 2015. Meses mais tarde, restabelecer duras sanções contra Teerã, privando-a dos benefícios econômicos esperados deste pacto internacional.
Uma das principais medidas foi determinar que países aliados aos americanos não importem petróleo iraniano —isto vem prejudicando o país, cuja principal fonte de receita é a exportação da commodity.
Autoridades de França, Alemanha, Reino Unido, China, Rússia e Irã irão se encontrar no próximo dia 28, em Viena, para discutir maneiras de salvar o acordo nuclear. O encontro vai discutir como lidar com os desafios advindos da retirada americana e da reimposição de sanções pelos EUA contra o Irã.
Da FSP