Alvo da PF é peça importante para levar Eduardo aos EUA
A operação da Polícia Federal contra o líder do governo no Senado evidencia o conflito existencial da geringonça política de Jair Bolsonaro. O presidente jamais recuou em definitivo de seus ataques às velhas práticas do Congresso, mas recorreu sem corar a alianças de conveniência para conseguir o que quer.
O veterano Fernando Bezerra Coelho (MDB), alvo da operação desta quinta (19), é uma peça-chave do governo na reforma da Previdência e, principalmente, no esforço para aprovar o nome do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL) para a embaixada do Brasil em Washington.
O líder do governo foi ministro de Dilma Rousseff e aliado de Michel Temer. Foi escolhido pelo novo presidente para a missão não a despeito de sua conexão com a política tradicional, mas graças a esse vínculo. Bolsonaro reconheceu Bezerra como uma ferramenta útil para driblar a falta de habilidade de parlamentares mais alinhados a sua agenda, porém completamente inexperientes.
Desde que o presidente anunciou a intenção de enviar o filho aos EUA, oferecendo pagar qualquer preço aos políticos responsáveis por sua aprovação, o líder passou a ser um dos despachantes dessa tarefa. Em parceria com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), Bezerra coleta pedidos de cargos e emendas dos parlamentares para destravá-los em reuniões com o governo.
A devassa no gabinete do líder numa investigação sobre irregularidades em obras da gestão Dilma é um daqueles episódios que podem parecer corriqueiros na agenda policial, mas provocam efeitos políticos. Bolsonaro terá que decidir se joga para a plateia e se livra de Bezerra, ou se acolhe um personagem que, até aqui, atendeu a seus interesses.
Não há uma acusação definitiva contra o senador nessa operação, o que permite que o presidente diga que vai esperar seus desdobramentos –assim como faz com o laranjal do PSL e o ministro do Turismo. Bolsonaro já deu sinais de que também consegue ver vantagens nas contradições da política tradicional.
Da FSP