Campanhas lançadas pelo mercado publicitário na mesma semana falam de gênero

Ao censurar uma propaganda do Banco do Brasil protagonizada por atores que representam diversidade racial e sexual, Bolsonaro tira a instituição financeira de uma tendência já consolidada. As agências Young & Rubicam, Ogilvy e Almap BBDO soltaram peças que abordam violência contra transexuais, meninos brincando de boneca e presença de mulheres em profissões com baixa representatividade feminina

Pesquisa do MEC mostra que maioria quer que gênero e sexualidade entrem no currículo escolar

Segundo a pesquisa, 55,8% responderam “sim” se a “abordagem sobre as questões de gênero e sexualidade deve fazer parte do currículo escolar”. Procurado, o MEC confirmou a compra da pesquisa pela gestão anterior, mas não esclareceu os motivos de tê-la contratado e nem do porquê de nunca ter tornado públicos os seus resultados. O governo não comentou os resultados do levantamento.

Como a direita ignorante criou o espantalho da “ideologia de gênero”

No Brasil, a expressão reverberou a partir de 2004, quando foi elaborada a proposta da Escola Sem Partido, que teve como principal defensor o próprio Bolsonaro. Passou ser usada, principalmente, pela bancada evangélica. O projeto, que foi arquivado em 2018 na Câmara dos Deputados, propõe que o poder público não permita “qualquer forma de dogmatismo ou proselitismo na abordagem das questões de gênero”. Os estudos de gênero, desde essa época, passaram a ser vistos como uma “doutrinação da esquerda” para atacar valores morais, como a família.

Só daqui a 202 anos teremos mulheres ganhando o mesmo que homens, diz o FMI

“O que se observa globalmente é que nenhum país atingiu a igualdade de gênero, independentemente do nível de desenvolvimento, da região e do tipo de economia. A desigualdade de gênero é uma realidade em todo o planeta, e estamos vendo isso em todos os aspectos da vida das mulheres”, diz Anna-Karin Jatfors, diretora regional da ONU Mulheres. Ela acrescentou que “202 anos é um tempo de espera longo demais” para a equidade econômica.

Desigualdade de gênero no Brasil é a maior desde 2011

Mantidas as tendências atuais, a disparidade de gênero só acaba em 108 nos 106 países analisados desde a primeira edição do índice –há uma lacuna de 32% que precisa ser fechada para eliminar essa diferença.

No caso brasileiro, afirma o estudo, o maior responsável pela piora no ranking na comparação anual foi o subíndice de oportunidade econômica —o país despencou nove posições, do 83º lugar para o 92º.

Criador do ‘Escola sem Partido’ recua sobre debate de gênero na escola

Contrário à proposta, o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que representa diversos movimentos educacionais, Daniel Cara, diz que, se aprovado, o projeto irá “prejudicar gravemente a qualidade da educação”, disse, acrescentando: “Porque um professor não vai conseguir lecionar sob um tribunal ideológico ou moral. Ele não vai conseguir lecionar sob o medo. Vai tornar o ambiente escolar tão instável, que mesmo os professores que são conservadores vão começar a atuar contra o Escola sem Partido. Isso já está acontecendo”.