Um conselho ao Ibope
As grandes protagonistas da mais previsível eleição para a Presidente da República do pós-redemocratização estão sendo as pesquisas de intenção de voto, ainda que, pelo menos até o último dia útil da semana, só tenha restado o Datafolha na campanha de José Serra.
A grande questão, agora, é se o Ibope terá peito de reembarcar na canoa furada do instituto da família Frias. O inexorável avanço de Dilma continuará com ou sem Ibope ou Datafolha como tem acontecido até aqui, de forma que, ao fim da eleição, não restará dúvida de quem mentiu.
O Ibope, que vive de apurar a opinião pública, não deveria entrar nessa. Se reproduzir o que suas pesquisas verdadeiramente demonstrarem, poderá salvar a imagem quando o TSE divulgar o resultado da eleição.
Depois de uma campanha eleitoral em que houve tanta polêmica sobre as pesquisas, não colaria a explicação que os institutos falsários dariam sobre o “erro” deles, agora comprovado – eles diriam que, por algum fator qualquer, Dilma ultrapassou Serra na reta final, é claro.
Em quem a sociedade iria acreditar? Nos institutos que acertaram a subida meteórica de Dilma e a estagnação de Serra, depois o empate entre eles e, por fim, a ultrapassagem do tucano pela petista ou naqueles que erraram em todas essas oportunidades?
Segundo montes de estudos acadêmicos, pesquisas de intenção de voto teriam um inegável poder de induzir mudança na disposição do eleitorado. Contudo, as pesquisas Ibope e Datafolha do primeiro semestre não favoreceram Serra por conta de que os institutos Sensus e Vox Populi não deixaram.
Ao acertarem mais do que Datafolha e Ibope, Sensus e Vox Populi mostraram que os seus números eram os verdadeiros. Mesmo com a distorção dos fatos e a censura da mídia aos institutos sérios, os formadores de opinião desvinculados de partidos ficaram sabendo e concluíram o que estava acontecendo.
E o que está acontecendo é que Serra está caindo mais rápido por ação própria. Sua queda deveria ser mais lenta, mas as suas baixarias e as do seu vice fizeram a rejeição do cabeça-de-chapa tucano assumir a liderança.
Os níveis de rejeição de Serra e de Marina (vista como vira-casaca pelo eleitorado) já os colocaram em um patamar que costuma ser visto como impeditivo à vitória de um candidato –Serra tem tanto de rejeição quanto tem de votos no primeiro turno; Marina, tem quase três vezes mais rejeição do que votos; Dilma é a única que tem bem mais votos do que rejeição (64% a mais).
Não haverá pesquisa manipulada que ajude Serra. As manipulações do Datafolha, acima das do Ibope, tentaram, apenas, fazê-lo cair mais devagar ou até parar de cair.
A intenção da manipulação das pesquisas era justamente a de evitar um fenômeno que até o próprio Datafolha reconheceu na sua última pesquisa, ou seja, a percepção de que Dilma é que irá vencer, um fator altamente influente na tomada de posição do eleitorado.
Seria uma injustiça deixar de citar, também, o efeito que a representação do Movimento dos Sem Mídia teve no âmbito da neutralização das pesquisas falsificadas.
A representação do MSM se tornou uma ameaça para os falsificadores, que, depois da eleição, terão que responder pelo crime eleitoral que cometeram. E assustou o Datafolha, que, logo depois da aceitação da representação, diminuiu para zero a vantagem de 12 pontos percentuais que dizia haver em favor de Serra.
Na pesquisa seguinte, o Datafolha, sob prováveis promessas de que seria protegido pela banda tucana da Justiça e da Polícia Federal, voltou a delinqüir, mas em níveis muito menos escandalosos.
Agora, a coisa ficou feia para esses institutos. A ousadia de novas fraudes lhes custará caro. Cada vez mais, fica claro que terão se metido nessa encrenca por nada. A diferença entre Dilma e Serra aumentou muito e continua aumentando – e o horário eleitoral ainda nem começou.
Com seu candidato derrotado, Ibope e Datafolha ainda terão que responder por que erraram tanto. A relação custo-benefício é totalmente desfavorável. Será uma burrice imensa, desses institutos, manterem a linha de atuação dos últimos meses.
Que benefício colherá o Ibope de reincidir em crime eleitoral de falsificação de pesquisas? Se não funcionar de novo, ou seja, se tal reincidência não beneficiar Serra, destruirá sua própria imagem de vez logo depois da apuração das urnas, e ainda terá que se explicar à Justiça, no mínimo.
Só o que explicaria uma reincidência do Ibope no crime seria a antiga tática da mídia de exibir poder, agora mostrando que não teme as leis, que está acima delas, mesmo com seu candidato derrotado.
Em um momento em que Globo, Folha, Veja e Estadão já enxergam o tamanho da nova derrota que sofrerão para o PT ao não conseguirem eleger seu candidato, e isso depois de tantos anos de ataques incessantes aos adversários dele, não seria mais inteligente esconder essa derrota?
Já posso vê-los rindo do que escrevi acima. Farão ironias perguntando se quero que acreditem que pretendo ajudá-los de alguma maneira, dizendo o que digo. Nada disso. Apenas gostaria de salvar a imagem internacional do Brasil, que ficaria muito melhor se tivéssemos uma eleição mais limpa.
Enfim, deixo aqui, ao Ibope, a recomendação para que não reincida em crime eleitoral. Repetir o que fez no mês passado, quando mostrou Dilma à frente e, uma semana depois, colocou-a empatada com Serra, será uma afronta à sociedade, à Justiça e um ato legitimamente suicida.
Mas quem é Eduardo Guimarães para dar conselhos ao um Ibope da vida, não é mesmo?