Sobre envelhecer

Crônica

Passei a vida me perguntando quais seriam os sinais de que estaria ficando velho. De alguma forma, parece que sempre soube que envelhecer seria ser tomado por um descompasso crescente com o mundo.

Velhice é aquele momento que chega para todo ser pensante em que começa a sentir que não mais entende o que se passa ao redor. É não mais conseguir participar do jogo que está sendo jogado.

Começar a sentir medo do mundo em que se está vivendo deve ser O sinal de que se está envelhecendo.

Medo por não saber do que é capaz aquele cidadão que caminha perto de você na rua. A sensação de que se está o tempo todo ameaçado de alguma forma por uma realidade belicosa.

Alguns dirão que é um medo comum ao homus urbanus devido à violência nas urbes.

Antes fosse. Na verdade, é o medo de uma sociedade em que estimar o próximo virou démodé. Em que se compete o tempo todo. Em que as palavras sempre têm um significado oculto.

Medo daqueles para os quais todos ao redor são definidos pelo que conseguem em termos de dinheiro ou prestígio. E medo por muitos serem assim.

Envelhecer, pois, não é um processo biológico, mas mental.

A paciência diminui e aumenta na mesma medida e com a mesma volatilidade, mas não ultrapassa a fronteira interior. Fica pulsando por dentro, pois você a retém – a volatilidade emocional.

Envelhecer é também se tornar um pouco menos cínico a cada dia. É também ir perdendo o medo de dizer o que pensa. Pelo menos envelhecer bem deve ser assim.

É entender que o fim chega para todos, ainda que eventualmente possa marcar um recomeço. E não se importar com a dúvida sobre como será.

É ir deixando de se importar com o lado de fora e ir se preocupando mais com o lado de dentro. Talvez por ter consciência de que a hora do Julgamento está chegando, nem que seja presidido por si mesmo.

Envelhecer é tão fácil quanto pensei que seria.