Desalento

Crônica

Um dia após as cúpulas dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário irem render homenagens a uma das quatro famílias que controlam com mão de ferro a comunicação de massas no Brasil, perdi mais um negócio – sou comerciante. E perdi porque não trabalhei como deveria naquilo que me paga as contas. E não trabalhei como deveria porque estava ébrio – não de álcool, mas de ideais.

Não foi a primeira vez. Se pudesse recuperar todo o dinheiro que perdi por me dedicar menos ao meu ganha-pão do que aos meus ideais políticos, certamente poderia comprar a casa na praia com que tanto sonho para que nela possa terminar os meus dias.

Nunca liguei para o dinheiro que perdi me dedicando a este blog, ao Movimento dos Sem Mídia e às causas que abraçamos. Mas agora, liguei. E não só por a presidenta Dilma ter ido prestigiar a Folha.

Apesar das noites em que escrevia furiosamente  de dentro da UTI em que minha filha caçula estava internada, apesar das brigas que comprei na Justiça com a imprensa golpista, apesar dos atos públicos que promovi responsabilizando-me perante a polícia pelo que centenas de pessoas que compareceram a esses atos fariam, fui tratado como alguém que abandona o barco ao menor balanço.

Foram poucos os que me trataram assim, mas a dor que me provocaram foi muita. Contabilizei umas doze pessoas que no Twitter, em comentários aqui e em e-mails, bêbadas pelo partidarismo mais descerebrado que se possa conceber, ignoraram tudo o que venho fazendo há anos para que o projeto petista de país pudesse ser levado a cabo.

Mas há outra razão para o desalento que me flagela. A demonstração de poder que um jornal deu ao fazer as cúpulas dos três Poderes da República se deslocarem da capital federal a São Paulo para paparicá-lo, revelou como é quixotesca a luta em prol da qual venho abandonando a minha própria vida e até as necessidades de uma filha gravemente enferma pela qual deveria estar empreendendo todos os esforços possíveis.

Para que tudo isso? Não ganhei dinheiro, não ganhei reconhecimento, não ganhei nada, particularmente, por mais que acredite que contribuí para impedir que a direita midiática voltasse ao poder. E seria suficiente porque nunca pretendi nada além disso. Mas, ao assistir à demonstração de poder que a imprensa golpista deu no primeiro dia desta fatídica semana, tive a sensação de que foi tudo em vão.