Mau jornalismo e mal escrito
Decidi transportar para o blog algumas notas que postei no Twitter, complementando-as, porque desnudam o fato de que os leões-de-chácara da imprensa golpista se acham verdadeiros pensadores, mas não passam de profissionais medíocres que conseguiram empregos bem-remunerados porque se dispuseram a vender a alma aos patrões.
Quero mostrar como esses tais “colunistas” que passaram décadas escrevendo toneladas de laudas sobre a suposta “ignorância” de Lula não têm nem o mínimo que se requer de um jornalista, que é saber escrever. Para tanto, há que fazer uma introdução ao assunto.
Não costumo corrigir o português de ninguém porque o nosso idioma é extremamente complexo e, assim, encerra armadilhas que podem pegar qualquer um. Mas tais armadilhas não podem pegar quem escreve em órgãos de imprensa. Até porque, jornalistas profissionais têm como revisar o que escrevem, antes de publicar.
E mais: o jornalista profissional tem obrigação de saber escrever. Não é como este blogueiro, que não é jornalista e faz um trabalho jornalístico apenas como serviço de cidadania voluntário. Ainda assim, cuido dos meus textos dentro do que minha formação e capacidade permitem. E, segundo dizem, com algum sucesso.
Tomemos como exemplo Merval Pereira, colunista de O Globo que, ao lado do colunista e blogueiro da Veja Reinaldo Azevedo – que gosta de apontar erros no que escrevem pessoas que não são jornalistas, apesar de ele também cometer alguns –, está entre os que mais criticaram e continuam criticando a falta de instrução formal de Lula.
Artigo de Pereira em O Globo, que li hoje, dá vontade de chorar, de tão mal escrito. A mediocridade já começa no primeiro parágrafo do texto:
“Na galeria de retratos de presidentes no Palácio do Planalto, a foto de Dilma Rousseff é a única colorida, contrastando com as demais, todas de homens em preto e branco”.
É uma ambigüidade só. A galeria é de “retratos de presidentes no Palácio do Planalto” ou é uma galeria do Palácio que contém retratos de presidentes? Ora, os retratos podem não ter sido tirados ali, onde está a galeria. E é uma foto só de homens em preto e branco ou é uma foto em preto e branco só de homens? Poderia ser uma foto de homens vestidos de preto e branco…
Nem tratarei da pontuação mambembe. Pulo outros exemplos da má qualidade do texto para ir direto ao exemplo principal. Analisem o trecho abaixo.
“A maioria desses gastos aconteceram antes de a crise de 2008 estourar”
Como é que é, senhor colunista que chama Lula de analfabeto? “A maioria aconteceram”?
O que não entendo mesmo nem é que alguém que vive debochando da cultura alheia tenha texto tão ruim. Minha dúvida é sobre como alguém que vive de escrever pode ganhar dezenas de milhares de reais cometendo erros tão primários e volumosos em um único artigo.
Cometo erros como qualquer jornalista – mesmo sem ser jornalista e sem ter obrigação de não errar –, mas são erros menores e episódicos. Ontem mesmo escrevi o verbo grassar com cedilha, ao que uma zelosa leitura me alertou. Apesar disso, foi apenas um descuido ao usar um substantivo como se fosse verbo.
Corrijo os outros quando vejo que precisam de alerta, pois escrever publicamente com certo nível de erros pode servir para alguém ridicularizar aquela pessoa, sobretudo em um blog político. Mas faço isso de forma privada. E quando os erros são muitos e mais graves, edito o comentário para o leitor não passar por constrangimento. Já corrigi erros até de críticos, aqui.
E olhem que nem critiquei a postura jornalística desse homem, apesar de que suas críticas exclusivas só ao governo federal e ao PT mostram que é partidarizado quando deveria ser equilibrado.
Não gosto de fazer este tipo de crítica, até porque também erro – só que dificilmente erro tão feio. Não me lembro de ter criticado o português de alguém antes, em quase seis anos como blogueiro. Mas com gente como Merval Pereira ou Reinaldo Azevedo, que adora criticar o português de quem não tem obrigação de escrever direito, faço com gosto.
Como se vê, o Partido da Imprensa Golpista (PIG), além de mentir, mente em mau português.
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PS: o leitor Marco Aurélio informa que os retratos de ex-presidentes na galeria do Planalto são sempre em preto e branco, e que a foto do presidente que está exercendo o cargo é sempre colorida