País rico é país sem pobreza

Crônica

O primeiro pronunciamento da presidenta Dilma em rede nacional de rádio e tevê contrastou na forma, mas não no conteúdo em relação aos pronunciamentos de seu antecessor. E por “forma” entenda-se imagem. É forte o contraste entre a figura embrutecida pela vida que era Lula em seus pronunciamentos e a imagem suave e até bela da mulher que governa o país.

Dilma está bonita. O poder lhe fez bem. E seu gestual demonstra ter sido estudado e construído milimetricamente. Cada sorriso, cada franzir de cenho, cada arquear de sombrancelhas se coadunam com vestimenta,  luz e cenário.

O resumo de sua fala, acima do anúncio de programas que ainda dar-se-ão a conhecer, materializa-se em promessa com que o novo lema do governo federal acena ao constatar um dos sinônimos de um país rico, que é o de não ter pobreza.

Poder-se-ia, contudo, dizer muito mais sobre o que é ser um país rico, ainda que mais do que rico o que se quer, para o Brasil, é que seja justo. O critério da riqueza, porém, atende a um sentimento que vai tomando os brasileiros, aos quais foi vendido, irremediavelmente, que a riqueza traz felicidade.

Todavia, se quisermos dar um sentido melhor ao termo “rico”, como sinônimo de valores sem cifrão, por exemplo, poderíamos dizer que:

País rico é país justo

País rico é país educado

País rico é país solidário

País rico é país sem violência

País rico é país com habitações dignas

País rico é país com sistema de saúde eficiente

País rico é país democrático

País rico é país governado para todos

A lista é infindável. Mas o bordão “país rico é país sem pobreza” também é bom, pois faz uma promessa de que, em verdade, país rico é país justo, com igualdade de oportunidades, com Justiça equânime para todos, com garantias individuais e coletivas idênticas para todos os estratos sociais, para todas as etnias, para todos os credos e regiões.

É cedo para pedir mais. Dilma governa há cerca de quarenta dias. Entretanto, estava no poder antes disso e, assim – e até por ter recebido um país organizado social, econômica e politicamente –, tem que fazer as coisas acontecerem em ritmo mais acelerado.

Resta oferecer uma reflexão à presidenta. De boas intenções o inferno está cheio. É difícil cumprir uma promessa de justiça social sem contrariar ninguém, ou melhor, contrariando apenas àqueles que, por esta ou aquela razão, for previsível que reagirão de forma contida diante da contrariedade.