O que penso da visita de Obama ao Brasil

Opinião do blog

Antes de opinar sobre a visita de Barack Obama ao Brasil, tive o cuidado de pedir aos meus leitores que me dessem um “feedback” (tempos de inglês, meus caros…) não apenas sobre o que esperam da visita do presidente norte-americano, mas até sobre se deveria vir ou ser recebido.

Há uma variedade bastante interessante de opiniões sobre a ilustre visita. Há, por exemplo, quem ache que não deveria nem ter sido aceito o pedido de visita de um presidente de um país que mantém relações diplomáticas, comerciais e culturais com o nosso.

Há quem veja como negativa a visita de Obama. Aceita que venha, mas acha que vem para nos depenar de alguma forma, o que não chega a ser tão absurdo quanto pode parecer a alguns. Pedem, assim, que a presidenta tome cuidado. Ou nem pedem, porque acham que está tudo dominado.

Há quem fique indiferente, também. “Ele vem? E daí? Vamos ser educados e recebê-lo. E que faça seu showzinho logo e se mande”. Ou há quem ache que nada extrairemos de sua visita, então acha que a presidenta vai aproveitar para dar um tapa de luva de pelica no pobre do Obama.

Há, por fim, quem julga positivo que o presidente dos Estados Unidos se desloque até aqui. Há quem veja prestígio para o Brasil. Estes, subdividem-se entre os que acham que podemos tirar vantagem ainda maior de sua visita e os que já se satisfazem com a o fato de o Brasil estar, durante o evento, sob os olhares do mundo inteiro.

Estou um pouco com cada grupo, mas tenho uma postura definida.

Acho que quem ficou puto com a vinda de Obama ao Brasil e que acha que a presidenta nem deveria ter aceitado recebê-lo pelo simbolismo do cargo que ele ocupa –  de líder do Grande Satã –, tem lá, sim, alguma razão. Estamos falando da potência que tanto mal já nos fez…

Contudo, quem fez mal ao Brasil não foi Obama, foi o país dele. E temos que nos decidir se vamos ter relações com esse país ou não, o que não me parece uma questão muito polêmica, pois duvido que seja mais do que um contingente minimamente representativo de brasileiros que queira isso.

Também devemos pensar no seguinte: uma potência com poder para influir tanto no resto do mundo está melhor nas mãos do fraco – porém minimamente sensato – Obama ou do homicida George Bush? Foi melhor que os EUA elegessem Obama ou o assustador ex-combatente de direita John McCain e a debilóide de ultra-direita Sarah Palin?

Se Obama deve vir ao Brasil? Não há nem o que discutir. É claro que deve. É bom que venha. Temos relações diplomáticas, comerciais e culturais com os Estados Unidos e temos, também, que nos portar como anfitriões de respeito, dando-lhe uma acolhida calorosa como só o nosso povo sabe fazer na hora em que se deve trocar gentilezas.

Ou alguém acha que chefes de Estado – sobretudo de Estados como o americano e o brasileiro – deixam para negociar pontos sensíveis na hora das fotos durante a cerimônia pública de recepção diplomática? É óbvio que a agenda está definida. Os intermediários diplomáticos já terão tratado de tudo que for detalhe, ficando apenas o bater do martelo para o final.

E o que se discutirá? Um dos pontos que está sendo mais discutido é o apoio de Obama à candidatura do Brasil a membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Podem acreditar em mim, portanto, que Dilma não tem nenhuma intenção de passar qualquer reprimenda em Obama ou no país dele.

Até porque, Obama vem aqui para ser bem recebido e melhorar a sua combalida imagem, e também pretendendo aumentar os negócios bilaterais, coisa de que seu país precisa muito.

Mas e deles, dos americanos, precisamos do quê?

Dinheiro, como na época do genial príncipe da Sorbonne, não precisamos. Pelo contrário. Talvez tenhamos mais dólares disponíveis em caixa do que o país do dólar que todos sabem enterrado em restrições orçamentárias draconianas, para não ser exagerado.

Tecnologia? Não creio. Há fila de outros países querendo nos dar tecnologia. Aliás, os americanos são ruins de negócio, nesse quesito. Nem adianta tentar. Os caças americanos dificilmente serão comprados, por mais que a compra deles que o Brasil deverá fazer no ano que vem seja um dos pontos da pauta de Obama e Dilma.

O que os Estados Unidos podem nos dar, através de Obama, o medroso presidente americano dificilmente dará. Simplesmente porque tem pouco poder. Duvido que os falcões de Washington, que andam em seus calcanhares, concordarão em entregar poder de veto no Conselho de Segurança a um país governado por uma ex-guerrilheira de esquerda.

Se assim for, para nós essa visita redundará em zero. Talvez alguns contratos comerciais… Nada muito além. O que não quer dizer que Dilma não deva receber Obama e ser muito gentil com ele. Assim como o nosso povo.

Aliás, se movimentos sociais e políticos quiserem lhe dizer alguma coisa, não será através da hostilidade que conseguirão. Através da cortesia, da boa educação, da firmeza, da sinceridade e da honestidade de propósitos, porém, esse pode ser o ponto alto da visita do presidente norte-americano. Com boas maneiras, é possível até lhe chutar as canelas.

Chutar as canelas de Obama, porém, não trará nada ao Brasil ou às vítimas dos Estados Unidos de ontem e de hoje. É preferível que se tente dialogar com ele. Convencê-lo a tomar alguma medida que caiba no âmbito de sua escassa coragem. Mas, para isso, ele precisa ouvir as vozes dos descontentes, o que só fará se for tratado com respeito.

Bem, e sobre o que penso da visita de Obama ao Brasil, posição que me foi cobrada, só saberei depois que acontecer.