A inocência deslumbrada de Palocci
As “denúncias” contra o ministro-chefe da Casa Civil do governo da presidenta Dilma Rousseff suscitam uma avalanche de reflexões, as quais, na opinião deste blog, para quem não está fazendo jogo político são as mais importantes, apesar de que não estão sendo discutidas.
Em primeiro lugar, a artilharia contra Palocci integra o que poucos destacaram apesar de estar ficando cada vez mais claro: acabou-se a “lua-de-mel” entre este governo e a imprensa golpista. Foi bom (?) enquanto durou, mas já era.
Dilma bem que tentou. Foi simpática, não fez provocações, chegando ao nível de ter ido prestigiar o jornal que já põe as garras de fora e se mostra disposto a infernizar o novo governo, ainda que, por enquanto, poupando a sua titular diretamente, o que pode significar uma mudança sutil de estratégia, de atacar o governo sem agredir pessoalmente o titular como ocorria na época de Lula.
Mas por que, isso? Será que Dilma está contrariando tanto a mídia conservadora e aqueles que ela representa? Está nada. Apenas não está cortejando essas forças, como queriam.
Após o episódio da festa de 90 Anos da Folha, tudo voltou ao normal. Dilma apenas tentou ser gentil e desarmar espíritos, agora se vê.
Todavia, a direita entendeu como rendição. É sério: entendeu que os vencedores se renderam só para não terem o desgaste de lutar. Aqui já se dizia, porém, que, se Dilma os contrariasse – ou quando os contrariasse –, qualquer esforço de distensão iria por água abaixo. E foi.
Vamos entender por que a onda com inflação, Copa do Mundo, livros didáticos e, sobretudo, contra o “homem do mercado”, Antonio Palocci.
Este, também não entendeu o jogo. Acha que basta não contrariar interesses ou contrariá-los o mínimo possível. Não basta. Tem que favorecer a esses interesses e fazer oferendas no altar midiático.
É claro que há interesses que a direita midiática não quer ver contrariados. Essa história de acabar com a miséria no Brasil, por exemplo, vai custar mui caro. Mas se pagar bem, que mal que tem?
Ou seja: a mídia quer contratos, quer demonstrações de respeito, quer poder. Se o governo não oferece, danou-se.
Vejam o caso de Palocci. É claro que ele enriqueceu após deixar o Ministério da Fazenda na esteira da grande farsa que foi o caso do caseiro Francenildo, subornado pela direita midiática para acusar e derrubar um dos principais ministros do governo Lula.
Querem me informar, então, qual foi o membro de equipe econômica que não ganhou rios de dinheiro após a passagem pela área econômica de um governo?
Por que a imprensa nunca se interessou pela evolução patrimonial de um professor universitário como Persio Arida, que, depois da passagem pela vida pública, tornou-se banqueiro? Porque todos sabem que passagem pela área econômica do governo, ainda mais como ministro da Fazenda, dá muito dinheiro.
Ao sair do governo, o então ministro da economia Antonio Palocci levou consigo informações privilegiadas assim como levam todos os que atuam na área econômica governamental. Mas a mídia só quer saber o que Palocci fez com tais informações. Os outros “não interessam”.
Há um período de “quarentena” que membros da área econômica do governo têm que cumprir após deixarem o cargo, mas é ridiculamente baixo. Seis meses. Seis míseros meses e o sujeito que dirige a economia do país, e que carrega todas as informações que carrega, pode cair nos braços do “mercado”.
É óbvio que todos lucram com isso e, se isso é imoral, é para todos e não só para Palocci. Fica óbvio, então, que a questão em relação a ele é política e não de interesse público.
Agora, não vamos deixar passar batida a conduta, não de Palocci, mas da classe política. Por que alguém que deve primar pela conduta sóbria como um ex-ministro da economia e que, agora, ocupa o cargo de ministro dos ministérios compra um apartamento de seis milhões de reais?
A resposta é deslumbramento. Esse é um mal que aflige de tucanos a petistas. Atinge a toda classe política. O poder deslumbra. A autoridade deslumbra. Tudo isso afasta o político da sociedade, estigmatiza-o e causa danos irreparáveis à confiança na democracia.