Odeiem Palocci e idolatrem Arida
Do mês passado para cá, a imprensa golpista deu um golpe de mestre. Transformou homens que usaram o sistema em benefício próprio em duas coisas diferentes: o que comprovadamente usou pior a sua passagem pela área econômica de um governo, virou herói. E aquele do qual se suspeita que usou mal esse período no governo, virou a Geni de plantão.
Persio Arida e Antonio Palocci enriqueceram depois de ocuparem postos-chaves nas equipes econômicas dos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula. Arida, muito mais. Não comprou um apartamento de seis milhões, como Palocci; virou banqueiro.
Mas não só. Recentemente, Arida, ex-presidente do Banco Central (BC) no governo Fernando Henrique Cardoso, foi indiciado pela Polícia Federal (PF) na Operação Satiagraha. Diretor do Opportunity Asset Management entre agosto de 1996 e março de 1999, foi enquadrado por suposta evasão de divisas, quadrilha e gestão fraudulenta.
O indiciamento ocorreu em agosto de 2010. À PF, Arida não se esquivou das indagações formuladas. Ele foi depor sozinho, sem advogado. Alguns ex-colaboradores do grupo relataram que o economista teve participação importante na área de captação do fundo. Doleiros do caso Banestado – evasão de US$ 30 bilhões – também depuseram nos autos.
Hoje, na imprensa, porém, esses dois homens, Arida e Palocci, ocupam posições distintas. Um, o professor que virou banqueiro depois de servir à Pátria durante o governo FHC, tornou-se herói da resistência; o outro, o sanitarista do PT que conseguiu comprar um imóvel que não paga seis meses de gastanças de Arida, virou o símbolo da corrupção verde-amarela.
Nos últimos dias, Arida vem aparecendo na mídia como o heróico revolucionário que foi torturado pela ditadura.
Na semana passada, o ex-torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra publicou artigo na Folha de São Paulo em que afirmava ser mentirosa a entrevista de Persio Arida à revista Piauí, na qual afirma ter sido torturado pela ditadura. Hoje, o professor que virou banqueiro publica um alentado artigo no mesmo jornal, já assumindo a feição de herói da resistência à ditadura.
Só há uma coisa a separar Arida de Palocci: a culpabilidade. Um, está indiciado e sofre acusações gravíssimas por conta da fartura de provas contra si; o outro, não tem contra si mais do que o senso comum de que “deve ter feito algo errado”.
Ambos, Palocci e Arida, porém, não são causa, são efeitos do sistema que permite a membros de equipes econômicas saírem do cargo e usarem informações privilegiadas. Ambos podem ser inocentes, ambos podem ser culpados e também podem ser um inocente e o outro, culpado. A diferença está no tratamento que recebem da imprensa.
A direita brasileira e o sistema que perpetua essa situação não precisam de mim para ajudá-los a derrubar Palocci. A mídia inteira e boa parte da blogosfera já estão fazendo isso. Além do que, do lado em que essa mídia criminosa e golpista que quer eleger o Berlusconi em 2014 estiver, estarei sempre do lado oposto.