O efeito Palocci
Lula foi profético ao prever que se a mídia conseguisse derrubar Antonio Palocci o governo Dilma se arrastaria por quatro anos, com ministros sendo derrubados como se fossem peças de dominó. Três já caíram, após Palocci, e mais três estão na corda bomba – Cidades, Turismo e Comunicações. Sem falar da ministra Gleisi Hoffmann, que já começa a entrar na alça de mira da direita midiática.
Como interromper esse processo, portanto, é a grande questão neste momento – ou deveria ser, ao menos para o governo Dilma. E, para tanto, o que precisa ser feito é resistir, pois até os ministros que estão rendendo os defenestrados também já sofrem acusações aqui e ali.
O grande problema é que, como no caso do ministro da Agricultura, as pessoas tendem a não suportar a artilharia da mídia, pois lhes afeta as famílias. Filhos e esposas ou esposos começam a ser discriminados socialmente. Vizinhos, parentes e amigos se afastam. Há filho de um ministro que sofreu assédio na escola. E o que é pior: sem que se tenha mais do que acusações sem provas.
A única forma de os ministros resistirem ao bombardeio da mídia seria a presidente Dilma em pessoa deixar bem claro que não demitirá ministros sem provas, dando declarações de apoio aos bombardeados. Pelo menos até que exista algo de concreto contra eles – o que, até agora, jamais ocorreu.
Palocci caiu, sumiu e as denúncias contra si também sumiram. Simplesmente porque não havia nada de concreto contra ele. Ao menos nada ilegal. O mesmo se dá com os outros ministros demitidos e é o que se dará com os que vierem a cair. Essa é a maior prova de que o processo que os está defenestrando em série não passa de jogada política.
As pessoas que dizem apoiar este governo e que ajudaram a derrubar Palocci tinham – e têm – uma lista de ministros dos quais não gostam e que querem que caia. Partem da premissa de que é possível restringir os ataques só àqueles que não gozam de popularidade entre setores da esquerda.
O fato é que ninguém escolherá que ministros cairão. Quem escolhe é a mídia, sob orientação da cúpula do PSDB. Vejam o caso do ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso. Os que pediram a queda de Palocci queriam que fosse o próximo, mas ele não está na agenda da mídia. Quem está na agenda são os que, caindo, podem abalar a base aliada.
Os ministros do PT não interessam. Neste momento, há que fustigar ministros que, caindo, podem fazer minguar a base de apoio do governo no Congresso, sendo as cerejas do bolo os peemedebistas. Aposta-se que o PMDB deixe a aliança e, com isso, o governo Dilma se veja em uma crise de governabilidade que o fará chegar a 2014 em frangalhos.
As previsões que este blog fez – inclusive antes de Lula dizer que Dilma não deveria entregar a cabeça de Palocci – não param de se confirmar. Foi uma ingenuidade dos que, apesar de apoiarem este governo, fizeram o jogo da imprensa. A partir dali, ficou claro que seria fácil derrubar ministros. Tivesse havido resistência, o governo não estaria na situação em que está.
Enquanto Dilma tenta apagar o fogo na base aliada, acalmando o PMDB e trazendo o PR de volta à base do governo, a mídia continua fustigando ministros que, caindo, podem abalar a aliança governista. São várias frentes de ataque. Quanto mais ministros caírem, mais fácil será vender, lá na frente, a tese de que a presidente escolheu mal seus auxiliares.
Só há uma forma de interromper o efeito Palocci, portanto: resistindo. Se a presidente resistir, se os governistas contra-atacarem cobrando que a ética midiática não se restrinja só ao governo do PT, acusando que governos tucanos são poupados apesar de terem também seus problemas, a estratégia midiática será desmontada. Do contrário…