Como derrubar uma presidente
Ainda que não seja plenamente reconhecido, o Brasil vive hoje uma crise política de desfecho imprevisível. A fragilidade da equipe de governo, as denúncias intermináveis de corrupção a esse governo e o esfriamento da economia vão se mesclando em uma fórmula com potencial para atirar o país em uma situação que hoje parece impensável, mas que pode se materializar bem mais rápido do que se pensa.
A única perna bamba do tripé fragilidade do governo, denúncias de corrupção e crise econômica, é esta última. Em síntese: só o que pode atrapalhar os planos políticos da oposição e de sua máquina mortífera de propaganda de inviabilizarem a administração federal, por incrível que pareça em um país que atravessou o século XX em crises econômicas, é a economia.
Há dúvidas sobre quanto ou mesmo se a economia pode esfriar. O ponto de consolidação da derrocada do governo Dilma, portanto, será o ponto em que o desemprego aumente. Se se mantiver, é improvável que Dilma e seu governo venham a sofrer queda de popularidade que anime a oposição midiática a concluir para a sociedade que a presidente é responsável – e é –pela equipe que tem e que, portanto, agora será ela que terá que sair.
Nas 48 horas que se seguiram à queda de Orlando Silva, ele saiu da alça de mira da mídia e seu sucessor, Aldo Rebelo, entrou. Denúncias contra ele espalham-se por blogs e portais ligados aos grandes meios de comunicação. Além do novo ministro do Esporte, o ministro da Educação já começa a sofrer fritura midiática. Aqui e ali vão se espalhando acusações. Na caixa de comentários do post anterior, há várias.
Ontem, aliás, a Folha de São Paulo se deu ao requinte de publicar matéria informando quais são os próximos ministros-alvo. Nesse contexto, como Educação e Esporte são pastas com intensas relações com o Terceiro Setor, agora acusado inteiro e inapelavelmente de “foco de corrupção”, há, aí, uma larga avenida para o rolo compressor midiático esmagar o governo Dilma.
Em dado momento, algum desses escândalos em ministérios pode ser imputado à titular do governo federal – crime de responsabilidade etc., etc. Aliás, quando este blog cobriu a “marcha contra a corrupção” que ocorreu em São Paulo no último dia 12 de outubro, o que mais se ouvia era que Dilma deveria ser responsabilizada pelos escândalos envolvendo seu ministério.
A militância tucano-midiática está pedindo. Quando o Partido da Imprensa irá atendê-la? E se atender, será o mesmo procurador-geral da República que passou por cima da oitiva-padrão do Ministério Público (concedida normalmente aos denunciados antes de pedir abertura de inquérito) que terá a faca midiática no pescoço, assim como aquele ministro do Supremo Tribunal Federal que, em 2007, disse que se sentiu pressionado pela imprensa a aceitar o inquérito do mensalão.
Será que a Justiça – ou o Congresso – resistiria mais a aceitar processar um presidente da República do que resistiu em relação ao ex-ministro Orlando Silva, por exemplo? Provavelmente. Até que ponto? Não se sabe. Depende de como estiver a popularidade do governo. Agora, a Justiça decidiu de forma relâmpago mesmo sem clamor popular. O que ela faria se as ruas pedissem a cabeça da presidente?
É claro que esta teoria perde qualquer sentido para quem acredita que a mídia é isenta e que as denúncias contra a equipe de governo de Dilma não têm viés político. Agora, se você acredita que a mídia é parcial e que não é pela “corrupção” que denuncia a equipe de Dilma sem parar, e se acha que essas “marchas contra a corrupção” não são “apartidárias”, terá que concordar que o que leu aqui faz bastante sentido.