“Tchutchucas” e “tigrões” vão ao enfrentamento na terça-feira

Análise

A TV Senado transmitiu a sessão da CPMI do Cachoeira da última quinta-feira. O que gritou aos ouvidos e saltou aos olhos não foram as recusas de colaboração dos membros da quadrilha do bicheiro, mas o comportamento da oposição, que, grandiloqüência à parte, parece uma fera acuada.

Qualquer um que assista a um desses “espetáculos” parlamentares e tiver capacidade mínima de julgamento reconhecerá na postura oposicionista o discurso que enlameia as colunas, editoriais e artigos da grande imprensa.

Oposicionistas desqualificam os trabalhos da Comissão, põem governistas sob suspeita de manipulação e falam em “despolitizar” os trabalhos enquanto agem como se o governo e o PT estivessem no banco dos réus a despeito de que, até agora, os principais envolvidos no escândalo são demos e tucanos.

Os governistas se portavam com uma fleuma britânica até que, sob uma saraivada de acusações oposicionistas, ensaiaram reação.

As tevês se aproveitaram ontem e os jornais se aproveitam hoje do showzinho do deputado Fernando Fracischini (PSDB-PR), que acusou o sóbrio relator petista, Odair Cunha (PT-MG), de ser “tchutchuca” para fazer perguntas aos depoentes sobre petistas e “tigrão” para fazê-las sobre tucanos, ao que o deputado Doutor Rosinha (PT-PR) reagiu pedindo comedimento nos termos e acusando o adversário e outros membros oposicionistas da Comissão de se portarem de uma forma diante das câmeras nas sessões abertas e de outra nas sessões fechadas.

Todavia, existiram vários outros momentos polêmicos.

O Deputado Paulo Teixeira disse, sem meias palavras, o que tem sido dito aqui, que querem desmoralizar a CPMI do Cachoeira.

O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) desandou a falar em “mensalão”.

O senador Pedro Taques (PDT-MT) veio falar em “pizza” e desmoralizar os trabalhos da CPMI.

Deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF) falou em membros da CPMI que quereriam “aparecer” e afirmou que tentam desmoralizar a investigação dizendo que terminará em “pizza”.

Deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF) insinuou que a oposição estaria tentando intimidar o relator, Odair Cunha (PT-MG), por ter feito perguntas aos depoentes silentes sobre o governador Marconi Perillo.

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) encampou a parte do discurso da oposição que pedia  investigação das operações da empreiteira Delta em nível nacional apesar de o presidente da CPMI ter avisado que haveria votação para decidir a questão.

O deputado Paulo Teixeira, então, visivelmente irritado, requereu a convocação do governador Marconi Perillo, ao que a senadora katia Abreu (PSD-TO) propôs convocar os governadores Sergio Cabral e Agnelo Queiroz.

Quem será ou não convocado vai ser decidido na terça-feira no braço, ou seja, em votação.

Apesar de ser minoria – em tese –, a oposição deixa claro que nem sob uma confissão escrita do governador Marconi Perillo aceitará que este seja convocado sem que os governadores aliados do governo federal também sejam, pouco importando a robustez das evidências contra o tucano.

Todavia – sempre em tese –, os governistas têm maioria que lhes permitiria mandarem a oposição lamber sabão folgadamente e convocarem só o governador pelo PSDB de Goiás. As defecções no campo governista, porém, ainda não podem ser dimensionadas.

Essa que foi a sessão mais acalorada da CPMI, até agora, mostrou que um acordo para abafar tudo ficou mais difícil. As negativas de acordos para impedir convocações incômodas foram comuns a todos os parlamentares. Na semana que entra, veremos muito menos “tchutchucas” e muito mais “tigrões”.