Pizza na CPI foi a gota d’água

Aviso

 

A CPI do Cachoeira terminou em pizza, segundo os petistas e seus aliados membros da Comissão. E eles estão mais do que certos. PMDB e PSDB fizeram uma negociata que gerou a revoltante impunidade daquele que pode ser considerado o sócio oculto do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o governador de Goiás, Marconi Perillo.

Seria ocioso repisar, detalhadamente, o envolvimento escandaloso de um governador de Estado com um criminoso como Cachoeira. A profusão de fatos que comprovam a sociedade entre o tucano e o bicheiro é por todos conhecida, mas, para não passar em branco, vamos a alguns desses fatos.

  • A Polícia Federal captou conversas entre o governador e o bicheiro em que marcavam reuniões e confraternizavam.
  • Perillo e Cachoeira transacionaram um imóvel de alto valor com pagamento adicional “por fora”.
  • A Polícia Federal captou conversas de membros da quadrilha afirmando que Perillo nomearia pessoas para cargos no governo de Goiás e essas nomeações aconteceram.
  • Comprovou-se entrega de altas somas por emissários de Cachoeira no Palácio do governador tucano.

Isso não é tudo, mas deveria ser o suficiente para qualquer cidadão decente se indignar com a união entre PSDB e PMDB na CPI para proteger o quadrilheiro que governa Goiás e o empreiteiro Fernando Cavendish, da cota peemedebista. Contudo, os que trabalham pela impunidade do governador e do empreiteiro perderam qualquer traço de vergonha na cara.

Pode-se dizer, portanto, que o esquema criminoso em Goiás sobreviveu, pois um dos seus dois chefes não só não terá que responder por seus crimes como continua no comando de uma administração pública infestada de corruptos.

Enquanto isso, o Ministério Público não apresenta conclusão alguma sobre o inquérito que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, só abriu contra Perillo porque este pediu (!?), apesar de tudo que foi enumerado acima.

A isso, soma-se o engavetamento, pelo mesmo Gurgel, de investigação da Polícia Federal que terminou com a prisão de Cachoeira e o desmonte parcial de seu esquema criminoso, sem que, até hoje, o procurador-geral tenha dado qualquer explicação para sua omissão em instalar a investigação.

E nem vamos falar da Privataria Tucana, da lista de Furnas, do envolvimento de Policarpo Jr., da Veja, com o esquema Cachoeira e outros escândalos recheados de provas que o Ministério Público e o Legislativo acobertam.

Vai muito mal, o Brasil. Enquanto uns são acobertados e ainda tripudiam sobre as leis e o Direito, outros são condenados à prisão sem provas, com base em suposições. O Judiciário afronta o Legislativo usurpando sua competência, o Ministério Público atua de forma nitidamente partidária, poupando uns e acusando outros.

O governo Dilma, por sua vez, age como se não fosse com ele. Não trabalha pela regulação da comunicação e não exerce o seu direito de protestar contra a impunidade dos adversários políticos e a politização do Ministério Público e do Judiciário, gerando, assim, ao menos um fato político.

Isso sem falar na nomeação de procuradores-gerais e juízes do STF tendenciosos pela presidente da República, o que gera temor de que ela pode continuar nomeando de olhos fechados.

Os resultados políticos desse “pragmatismo” da presidente e do seu partido está sendo a destruição do Estado de Direito e a solidificação da corrupção no Brasil, com a solidificação de uma classe de inimputáveis que pode roubar à vontade com o beneplácito do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.

Enquanto cidadãos como este que escreve se expõem à sanha de pistoleiros das quadrilhas que aprisionaram parte do Estado ao promoverem ações na Justiça, manifestações etc., o governo fica de quatro, com a língua de fora, esperando um chamado da imprensa aliada ao crime organizado para lhe dar gostosas e sorridentes entrevistas.

O Brasil, pois, precisa de um líder político corajoso. Sem reação, a direita midiática retomará o poder e dele não sairá nunca mais, pois, nessa batida, todo aquele que se opõe frontalmente será acusado e condenado sem provas.

Não se esqueça, leitor, de que venho anunciando há anos o golpismo que poucos governistas negam hoje. Diziam que “não havia clima” para golpe. Quando eu dizia que havia outras formas de golpear a democracia, esgrimiam com as pesquisas. Ora, de que adianta pesquisa e voto se o político não puder disputar eleição ou se, eleito, for apeado do cargo?

Era para o PT estar levando sua militância às ruas, a presidente estar discursando contra a impunidade dos adversários e condenação sem provas de seus aliados, mas não. O partido se limita a declarações soltas, alguns comunicados que não geram consequências pela timidez e a presidente nem abre a boca.

O que é que estamos fazendo aqui, então? De que adianta nos expormos dessa forma se o governo e o partido do governo não ecoam a indignação de milhares de pessoas que todos já viram nesta página clamando por reação?

Este blogueiro gasta dinheiro que não tem para manter um blog e um movimento social, fazer intermináveis ligações telefônicas, viagens para participar de seminários, lidera ações concretas, interrompe sua atividade profissional remunerada, expõe-se até a ameaças de violência física… E tudo isso para quê?

O PT e seus aliados entre movimentos sociais, sindicatos etc., bem como o governo, teriam meios de reagir. Com o concurso das principais lideranças petistas, sobretudo Lula e Dilma, poderíamos denunciar que está surgindo no Brasil um grupo político inimputável, que pode roubar descaradamente, à vista de todos, e nada acontece.

O que está acontecendo é a ponta do iceberg. Em 2014, a direita midiática completará 12 anos fora do poder e não aceitará que sejam 16. Que Dilma e Lula não se enganem: serão impedidos de disputar a próxima eleição. E se o PT e o governo não se mexerem a partir de agora, que não contem comigo quando o circo pegar fogo.

*

Veja, abaixo, como votaram os senadores e deputados federais sobre o relatório final da CPI do Cachoeira.

Senadores

A favor

Jorge Viana (PT-AC)

Lídice da Mata (PSB-BA)

Pedro Taques (PDT-MT)

Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM)

Aníbal Diniz (PT-AC)

João Costa (PPL-TO)

Randolfe Rodrigues (PSOL-AP)

Contra:

Sérgio Petecão (PSD-AC)

Sérgio Souza (PMDB-PR)

Ciro Nogueira (PP-PI)

Ivo Cassol (PP-RO)

Jayme Campos (DEM-MT)

Alvaro Dias (PSDB-PR)

Cássio Cunha Lima (PSDB-PB)

Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP)

Marco Antonio Costa (PSD-TO)

—–

Deputados

A favor

Cândido Vacarezza (PT-SP)

Odair Cunha (PT-MG)

Paulo Teixeira (PT-MG)

Íris de Araújo (PMDB-GO)

Ônix Lorenzini (DEM-RS)

Glauber Braga (PSB-RJ)

Miro Teixeira (PDT-RJ)

Rubens Bueno (PPS-PR)

Jô Moraes (PCdoB-MG)

Contra

Luiz Pitiman (PMDB-DF)

Carlos Sampaio (PSDB-SP)

Domingos Sávio (PSDB-MG)

Gladson Cameli (PP-AC)

Maurício Quintela Lessa (PR-AL)

Sílvio Costa (PTB-PE)

Filipe Pereira (PSC-RJ)

Armando Vergílio (PSD-GO)

César Halum (PSD-TO)